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Mostrando postagens de novembro, 2018

A alegoria do grande circo místico

O uso de alegorias é uma prática recorrente na construção de narrativas. Ao traduzir a realidade em uma ficção, o artista, por meio de metáforas, é capaz de dialogar com o público de forma subjetiva, realçando certas impressões pessoais, destacando apenas o essencial para a compreensão da mensagem vinculada ao objeto artístico. Nesse sentido, artistas de todos os ramos do século XX buscaram novas formas de se expressar, criando escolas vanguardistas e conceitos de abstração poética. No cenário brasileiro, tivemos grandes obras cinematográficas capazes de transmitir mensagens por meio dessas abstrações, reunidas em torno do Cinema Novo, cujo maior nome é, sem dúvidas, "Terra Em Transe", de Glauber Rocha. No filme, o país fictício latino-americano de El Dorado serve como palco de um grande movimento político, criticando o status político brasileiro e mundial. Décadas depois, o mesmo sentimento impresso pelos cineastras permanece na mentalidade dos criadores do Cinema Novo, co

O Crime do Padre Amaro - Análise Crítica

Por muitos anos, Portugal produziu uma quantidade impressionante de obras românticas. Tendo uma literatura predominantemente lírica, valorizando o país como nação e como terra saudosista, viu grandes nomes, como Garrett e António Feliciano de Castilho. Entretanto, insatisfeitos com o cenário cultural vigente, estudantes da Universidade de Coimbra uniram-se em um grupo composto por nomes como Antero de Quental e Teófilo Braga, inaugurando uma corrente de pensamento inspirada nos romances realistas franceses de Zola e Flaubert , além das novas ideias socialistas e da perspectiva científica do determinismo. Disruptivos, passaram a abordar de forma crítica o movimento ultrarromântico português, nomeado pelos jovens de "escola do elogio mútuo", por conta do caráter hipócrita dos poetas de tecerem comentários agradáveis a todas as obras produzidas pelo seleto grupo. Contudo, foi em 1865, com uma crítica explícita ao grupo dos jovens de Coimbra elaborada por Castilho, publicada no

Episódio 01 - Análise de "Misto-Quente", de Charles Bukowski

Como complemento ao último post sobre os romances de formação, analisei a obra citada, "Misto-Quente", de Bukowski, e destaquei seus principais pontos. Texto de Lucas Barreto Teixeira

O conceito de despertencimento

Um elemento muito importante presente em grande número de obras literárias é a construção da personalidade individual a partir de acontecimentos passados, geralmente ocorridos durante a infância. Na cultura popular, existe inclusive um nicho no mercado especializado na expansão das histórias para apresentar um passado, geralmente traumático, quando as personagens definem as diretrizes de seu caráter. É o caso de, por exemplo, quando George Lucas decidiu contar sobre a infância de Anakin Skywalker. É curioso observar a continuação desta grande tendência literária, visível em grandes nomes da arte. Sem dúvida, "Demian", de Herman Hesse, é um dos melhores exemplos para se entender a estrutura de um romance de formação. Narrada pelo jovem Sinclair, a trama se desenrola a partir das angústias vividas durante sua infância, com traumas desenvolvidos por um grande desprendimento da realidade ao redor e de seu sentimento de despertencimento de comunidade. No cenário desolador