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Mostrando postagens de abril, 2018

Eu, Tonya - O papel social da mídia

"Eu, Tonya", filme de Craig Gillespie, foi uma bela surpresa  no calendário cinematográfico de 2017. Estrelado por Margot Robbie, que interpreta a patinadora de gelo artístico "Tonya Maxene Harding", o filme narra, a partir dos relatos das personagens, a vida conturbada da atleta. Desde a infância de Tonya até a decadência de sua carreira, o espectador acompanha suas contradições familiares, amorosas e até esportivas, que se encaminham a um final conhecido pelo público geral reinterpretado pela visão do diretor. Dessa forma, Gillespie conta uma história conhecida, mas com outra perspectiva, esclarecendo fatos e fazendo justiça ao nome de Tonya, mas sempre de maneira bem-humorada e bem-estruturada. Foto comparativa entre Margot Robbie (esquerda) e Tonya Harding (direita). O filme, além de contar a história de uma vida, aborda os diversos conflitos internos que uma pessoa desenvolve, indo muito além de uma mera biografia para um filme humano e sensível. &qu

O desapego da moral em Bukowski

“ -Que vai fazer agora? - Perguntou Sarah. - Sobre o quê? - Quer dizer, o filme acabou mesmo. - Oh, sim. - Que vai fazer? - Tem os cavalinhos. - Além dos cavalinhos? - Oh, diabos, vou escrever um romance sobre como se escreve um argumento e se faz um filme. - Claro, acho que você pode fazer isso. - Acho que posso. - Como vai se chamar? - Hollywood . - Hollywood ? - Ééé... E é isso aí.” Caracterizar Charles Bukowski como um velho bêbado louco é eufemismo. O alemão, naturalizado americano, é um dos maiores expoentes da literatura de seu tempo, além de ilustrar a realidade de sua época com crueldade atroz. A sociedade em Bukowski é hipócrita e suja, imoral e desigual. Mas, apesar de toda dimensão artística e crítica atribuída ao autor, não são esses elementos os almejados por ele. Charles Bukowski (1920-1994) A narrativa de Charles Bukowsi é norteada por sua própria vida. Por meio de seu alter-ego Henry Chinasky, que protagoniza a maior parte de seus livros, o aut

Rampage e os efeitos da indústria cultural

Quando vou ao cinema, sempre gosto de chegar com antecedência para ver todos os trailers que antecedem os filmes. Ao longo da evolução da indústria cinematográfica, a produção desses tornou-se primorosa e agradável aos consumidores do mercado. Não é difícil de comprovar esse fato; faz-se necessário apenas pesquisar algum "vídeo de reação ao novo trailer de vingadores" no YouTube para tal. O que quero dizer é que os trailers e chamadas de filmes são as principais formas de se anunciar as novas produções que estão para ser lançadas. E não há nada de errado com isso. No entanto, na última vez que fui ao cinema, um sentimento engraçado me tomou. Estava lá, sentado com meus amigos e namorada, para ver um filme besteirol do Dwayne "The Rock" Johnson - "Rampage, Destruição Total" - quando um trailer anuncia mais um filme com o ator, que já estava para ser lançado. Imagem do filme "Rampage, destruição total" Por mais que tenha estranhado no moment

O Velho e o Mar - A história da perseverança humana

Um velho pescador retorna de mais um dia de trabalho com as mãos vazias. Há mais de oitenta dias não consegue pescar. Sua maré de azar o faz descender a um estado de miséria humana triste e sofrido. No entanto, com a ajuda de um jovem que aprendera tudo o que sabe sobre pesca com o velho, ele é capaz de sair ao mar uma vez mais. O mar, para o velho, não é um espaço competitivo e tormentoso, como para os outros pescadores. Ao contrário, ele o trata como uma amante, chamando-o por "Ela" e sempre a tratando com delicadeza e carinho. "O Velho e o Mar" é um desses livros icônicos, repleto de uma sensibilidade ímpar e cativante. A narrativa é carregada com um valor pessoal, tornando o leitor não apenas participante da obra, por estar sempre ao lado do Velho, como também o torna confidente das lamúrias do autor, Ernest Hemingway. Ernest Hemingway (1899/1961). A temática de o Velho e o Mar vai muito além de uma simples história de pesca. É, essencialmente, a jornada d

Madame Bovary e a sociedade consumista

"Não há libertino, por mais medíocre, que não tenha sonhado com sultanas; todo tabelião guarda em si os despojos de um poeta." Há algo de encantador e seduzente em Madame Bovary, por mais repulsiva que seja. Ao mesmo tempo em que aborda a temática da paixão e do amor proibido, a arrogância da personagem que dá nome ao romance de Gustave Flaubert por muitas vezes se volta contra o leitor, que se vê perdido nas mentiras causadas pela ilusão que se é criada a partir de sua percepção da sociedade. Com seu livro mais conhecido, Flaubert foi capaz de criar uma análise sagaz da França da época, mudando constantemente de cenário, passando pelo campo, pelas cidades, pelos camponeses, pelos nobres, pela burguesia e pelo clero. Contudo, o mais impressionante de "Madame Bovary" é o desenvolvimento constante das personagens, que nunca permanecem estáticas na narrativa, dando ao texto uma dinâmica saborosa e bem-estruturada, apesar de estarem sempre presos às convenções que as

A verdade do alienista e a massa alienada

Foi em algum canto de Itaguaí onde Simão Bacamartes teve a enfadonha ideia de construir um hospício. Homem da ciência, virtuoso, correto, modesto e amigável, resolveu aproveitar sua vida conforme era prescrito pelos seus diplomas de professor, médico, mestre, doutor e tudo o mais. Assim, reúne todos seus conhecimentos e constrói uma casa cujas janelas verdes viriam a emoldurar quadros de insanidades de todos os tipos. É provável que você, leitor, já tenha escutado essa história antes. "O Alienista", de Machado de Assis, é um dos mais conhecidos textos produzidos pelo autor. A premissa, amplamente difundida na cultura geral, gira em torno de um célebre médico que decide estudar o comportamento humano e se utiliza do método científico para deduzir as incontáveis formas de como se manifesta a loucura. Rodeado pelo humor crítico e sutil que apenas Machado sabe fazer com perfeição, Simão enfrenta crises morais durante a narrativa que se misturam com a própria história de Itaguaí