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Mostrando postagens de janeiro, 2021

Quando uma crítica romantiza o absurdo

Com a estreia da série Bridgertons, fui convencido por uma amiga a ler os livros antes de assistir aos episódios, a intuito de comparação. Estava intrigado, confesso, com a liberdade tomada pela equipe criativa de abandonar a precisão histórica para contar uma história voltada a um público mais abrangente com questões modernas ao redor do romance. Não escondo que adoro quando produções realizam tais releituras, vide o incrível musical Hamilton, mas ainda assim, fui convencido a ler os romances antes. Claro, ler os nove livros em tão pouco tempo é uma tarefa árdua, e não tenho tanto tempo para mergulhar em todos em sequência, mas ao acabar o primeiro volume, uma impressão não me abandonou, incomodando-me. "O Duque e Eu", primeiro romance da série de Julia Quinn, não é muito diferente de romances "hot" contemporâneos, flertando com um romance simples e elementos de boas fanfics da internet, de valores bem subestimados. O que me incomodou, entretanto, está na intenção

Machado para adolescentes

 Machado de Assis dispensa apresentações. Escritor, crítico e fundador da Academia Brasileira de Letras, é sem sombra de dúvidas um dos maiores - se não o maior - nomes da literatura nacional. Sua influência, inclusive, não está presa a seu tempo histórico e em seu território, sendo descoberto e redescoberto até hoje em diversos países . Seu realismo irônico particular, seus contos ácidos, seus livros icônicos e sua convicção política pautaram discussões sociais e literárias por anos a fim, tornando-se um símbolo presente nos sistemas curriculares da educação de todo o país. Com todo seu peso histórico, seu nome virou pauta no Twitter em um sábado, dia 23 de janeiro de 2021, quando influenciadores disseram que: "forçar adolescentes a lerem romantismo e realismo brasileiro é um desserviço das escolas para a literatura. Álvares de Azevedo e Machado de Assis não são para adolescentes! E forçar isso gera jovens que acham literatura um saco"; criando uma enorme discussão nas rede

O Valor de uma Obra

Ingressos de cinema e teatro são caros, preços de livros são exagerados e os de jogos são pitorescos de tão altos. O acesso à arte, no geral, é barrado a classes menos favorecidas, aliado sempre de uma elite econômica que busca maneiras de se manter aristocrata. Isso sempre foi um problema, claro, com diversas tentativas por parte de diferentes agentes sociais de quebrar a barreira do acesso à cultura, rendendo políticas estatais como o vale-cultura, desde 2012, até criações de eventos como a Perifacon, voltados a grupos minoritários que desejam consumir cultura e arte. No entanto, com a extinção de diversos tipos de incentivos nos últimos anos, e com as medidas econômicas desastrosas que se dão no país, cada vez menos da renda familiar pode ser investida em cultura, um direito básico visto como luxo. Mas isso não é novidade para ninguém. A grande questão, contudo, é que com o passar do tempo, mudamos a maneira de entender o valor de uma obra, qualificando-a por meio de um cálculo com

Episódio 07 - Final Fantasy VII ainda é uma obra-prima

Após jogar Final Fantasy VII pela primeira vez, venho discutir seus méritos e como a obra como um todo ainda se sustenta. Vídeo de Lucas Barreto Teixeira

Lupin é uma aula sobre boas adaptações

 Arsène Lupin é um dos mais icônicos personagens da literatura, rivalizando com Sherlock Holmes, os Três Mosqueteiros e diversos outros. Estabelecido enquanto arquétipo, já apareceu em jogos como Persona 5, em filmes como O Castelo de Cagliostro, peças de teatro, séries, livros de outros autores que não os originais de Maurice Leblanc... mas, definitivamente, em nenhuma outra obra vi seu personagem melhor representado do que em Lupin, série francesa produzida pela Netflix. Além de uma surpresa extremamente agradável, a produção se revelou como uma verdadeira lição de como uma narrativa deve ser adaptada. São vários os fatores que fazem Lupin ser memorável. O protagonista, interpretado pelo elegante e talentoso Omar Sy, a narrativa, cheia de mistérios e cenas mirabolantes que prendem a atenção do público, e os antagonistas e figurantes, que aqui servem como escadas para a estrela da história brilhar. Mas vamos por partes. Já no piloto, somos apresentados a Assene Dio, nome criado de for

Narrativas Atemporais

 Certa vez, escutei que a essência da literatura dita clássica estava na atemporalidade de seus temas. Até hoje, ao ler sobre a inveja em Shakespere, os dilemas em Dostoiévski, ou até mesmo a ironia em Machado, o leitor é capaz de se identificar com as situações ali propostas. Baseado nessa preposição, comecei a me perguntar em quais narrativas contemporâneas se poderia encontrar essa chamada "atemporalidade", visto que as obras de hoje hão de permanecer pelos anos que virão. Inveja, amor, ciúme, ira... toda a história precisa de um tema, uma problemática na qual os personagens se veem envolvidos e que instiga o leitor. Ilíada é uma história de amor, traição, perda e fome pelo poder; Crime e Castigo sobre miséria e culpa; Dom Quixote sobre loucura e desilusão. É claro que há algo de diferente nas obras destacadas quando comparadas a outras, contemporâneas ou não, com a mesma temática, seja a estética, a maestria na escrita ou pela rela relevância histórica. De qualquer forma,

O Melhor e Pior de 2020

 Florestas queimadas, Pandemia e isolamento social, desemprego e chefes de Estado incompetentes... é... 2020 não foi, nem de longe, um bom ano. Fica difícil lembrar, inclusive, de tudo que aconteceu nesse período todo. Talvez as memórias de um secretário da cultura repaginando um discurso de Goebbels e de ameaças de guerras fiquem nebulosas quando um Trump tenta, por meio de sua trupe supremacista, anular eleições nos Estados Unidos, ou quando terroristas de extrema direita tentam assassinar lideranças políticas bolivianas, ou quando um sujeito como Bolsonaro... bem... faz ou fala qualquer coisa que lhe vier na telha. É. 2020 foi... complicado. No entanto, o que não falta por aí são retrospectivas sobre os diversos altos e baixos sobre o ano. O que não falta, também, são listas de melhores  e piores filmes, séries, jogos, livros... mas quis tomar a liberdade de falar sobre isso. Dessa forma, desde já peço desculpas por contribuir com a saturação de tal tema, mas nem tanto, visto que ta