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Mostrando postagens de junho, 2018

A Morte de Pedro Gonçalves - Parte II

Acesse a Parte I O Bebum Sílvia e Fernando chegaram no local do crime quinze minutos após a denúncia que receberam. Uma senhora gorda, com um vestido rosa e espalhafatoso, esperava sentada na rua, segurando em seus braços flácidos um adorável poodle. Os policiais saltaram da viatura e foram ter com a velha. Fernando notou que a senhora tremia, de frio ou de medo. Aproximou-se com um cobertor velho que fora esquecido na parte de trás do carro e a cobriu.  ------------------------- Dona Maria das Dores passeava todos os dias com seu cachorrinho, Tite, por aquelas ruas. Apesar da noite ser perigosa, Dona das Dores apenas passeava de madrugada, por não gostar de pessoas ao longo de seu caminho. Era uma senhora reclusa e muito delicada, sem qualquer laço de natureza humana com alguém a ponto de notarem sua falta. No entanto, após terem passado por uma praça, a senhora ouviu um estrondo e um grito. Desesperada, correu para se esconder. Entretanto, não havendo nada ou nenhum

A Morte de Pedro Gonçalves - Parte I

O Escritor Já era noite. O dia tinha passado rápido demais. Nada de novo ocorrera na vida do homem.  Fumava na varanda de seu apartamento. Uma mulher o aguardava na cama, dormindo, com seu pagamento na cabeceira e com as roupas largadas no chão. Uma coluna de fumaça cinza correu pelos seus lábios e voou pelo horizonte escuro da cidade. As ruas, iluminadas pelos postes velhos e enferrujados, estavam desertas. Nenhuma alma viva passava por ali. Uma última tragada queimou superficialmente os dedos que seguravam o cigarro. Deixou as cinzas caírem das alturas, sendo levadas pelo vento bucólico da escuridão dilacerante. Sentia um imenso peso no peito. Precisava molhar a garganta. Levantou-se e deixou para trás a noite cálida de inverno. O quarto era iluminado apenas pela fraca luz de um abajur em sua escrivaninha, revelando a pele clara da mulher em sua cama. Passou por ela e alcançou a sala, onde pilhas e pilhas de livros obstruíam a passagem. Deu o melhor de si para alcançar o

Isaac Asimov e a subjetividade de Descartes

Isaac Asimov é lembrado como um dos maiores nomes da literatura de ficção-científica do século XX. Com suas ideias distópicas e estruturadas em uma concepção tecno-científica da realidade, desenvolveu conceitos sobre a inteligência virtual que até hoje são explorados em filmes, livros e pensadores. No entanto, teve inspirações tiradas de diversas correntes filosóficas e de diversas contradições geradas por elas ao longo do desenvolvimento do pensamento humano. Este texto em si abordará um fragmento específico da obra de Asimov. Afinal, apesar de diversos romances publicados, todos com suas devidas importâncias, foi com seus contos que o autor se consolidou como grande nome da literatura de ficção-científica. Em especial, irei me referir basicamente ao conto "A Última Pergunta".  Isaac Asimov (1920 - 1992), autor de "Fundação", "Eu, Robô", entre outros. Em "A Última Pergunta", Asimov aborda a existência de um fato científico que acarretará

A felicidade aristotélica em Vinicius de Moraes

É melhor ser alegre que ser triste Alegria é a melhor coisa que existe É assim como a luz no coração Dentre os diversos movimentos artísticos e filosóficos, o pensamento Clássico ainda é um dos mais influentes. Tales de Mileto, Heráclito, Parmênides, Sócrates, Platão ... As ideias desses e outros pensadores não somente pautaram grande parte do desenvolvimento social de toda a história mundial como também influenciaram grande parte de intelectuais, artistas e cientistas. E é, talvez, Aristóteles um dos maiores influenciadores desse período, afinal, o pensamento aristotélico pautou o diversos pensamento e ideologias, prevalecendo no âmbito filósofo e religioso em sua integridade até o Renascimento e as Revoluções Científicas. Aristóteles (384 a.C. - 322 a.C.) O pensamento aristotélico abrange diversas áreas de conhecimento diferentes, incluindo a arte, a política e a percepção da realidade. No entanto, hoje abordarei de forma bastante reduzida apenas um de seus conceitos.

Marinetti e Walter Benjamin - a memória popular e suas consequências

Desde então a literatura exaltou uma imobilidade pesarosa, êxtase e sono. Nós pretendemos exaltar a ação agressiva, uma insônia febril, o progresso do corredor, o salto mortal, o soco e tapa. No dia 20 de fevereiro de 1909, no jornal francês Le Figaro , era publicado o manifesto futurista de Filippo Tommaso Marinetti. Com o manifesto, a vanguarda do futurismo foi inaugurada pelo poeta italiano. Idealizando a completa desvinculação com o passado, vangloriava os avanços das revoluções industriais que se expandiam em patamares extraordinários pela Europa, exaltando os feitos do homem ao ter criado a divindade das máquinas. Marinetti (1876 - 1944), além de ter sido um relevante escritor do século XX, inaugurou uma das vanguardas modernistas européias. Marinetti viveu uma época conflituosa e conturbada no início do século XX. Período marcado por guerras e crises econômicas e sociais, foi palco do surgimento de diversos intelectuais que almejavam romper com o passado, visto como

Crime e castigo e a sociedade conformista

Dostóievski é, provavelmente, o mais influente escritor do realismo russo. Com suas palavras afiadas e sua visão crítica da sociedade russa, contou histórias brilhantes envolvendo a miséria e os excluídos do sistema de classes então vigente. Em “anedota infame”, o autor critica a relação entre os poderosos e os pobres. Já em “Os irmãos Karamasov” e em "Demônios", a convicção moral e ideológica é colocada em crise com o questionamento da realidade e das práticas sociais. Mas é em “crime e castigo” que Dostóievski encontra espaço para ter sua obra-prima, recheada de angústia, dor e conflitos morais. Fiódor Dostoiévsky (1821 - 1881) “Crime e castigo” é um título auto-explicativo. Com ele, Dostóievski determina bem que ocorrerá um crime que terá como consequência uma punição. E desde o início da narrativa o crime aparece explícito ao leitor. Raskólnikov, o protagonista, é um homem sem riqueza, alimentando-se com restos e adiando ao máximo o pagamento de seu aluguem, a

Solo: Uma história Star Wars - análise crítica

"Solo: Uma História Star Wars" foi o maior fracasso financeiro da franquia, desde o lançamento da "Nova Esperança", em 1977. Após as fortes críticas provenientes do último filme da saga, "Os últimos Jedi", a longa tinha como principal objetivo tentar unir novamente os fãs dessa icônica franquia. No entanto, sendo um filme fraco e falho, acabou fracassando em sua missão. Alden Ehrenreich interpreta Han Solo. Na foto, está acompanhado por "Chewie", seu companheiro. Para entender "Solo", deve-se primeiro analisar a política de produção realizada pela Disney, detentora da franquia. Ao gastar uma quantia exorbitante para adquirir os estúdios da Lucas Arts , a companhia tinha apenas um objetivo: fazer lucro em cima da obra cinematográfica de George Lucas, criador de Star Wars. Contudo, ao invés de se utilizar da infinita reserva de material produzido ao longo de mais de 40 anos, a produtora decidiu reiniciar o "universo expandido

Intervenção. Já?

Imagem do jornal "O Lince" anunciando o fim do governo Goulart e o início do regime militar brasileiro. No dia 25 de agosto de 1961, após sete meses de mandato, renunciava o presidente Jânio Quadros, frustrando uma geração de brasileiros crente de sua capacidade de "varrer" todos os males dos políticos corruptos do Brasil. O vice-presidente João Goulart, estando no oriente a mando do ex-presidente, viu-se em uma situação no mínimo complicada. O Primeiro e o Segundo exércitos, aliados a ínfimos setores inconstitucionais do Congresso e ao próprio Jânio Quadros, tramavam ocupar o cargo do vice-presidente que estava para ser, então, o mais novo presidente da república brasileira. Jango só ocuparia o cargo de presidente, no entanto, ao ser acordado a criação de um parlamento provisório, limitando o poder presidencial e evitando uma possível guerra civil entre setores inconstitucionais e  constitucionais. Todavia, devido ao temperamento difícil de Jango e à cri

Blade Runner e a filosofia do absurdo

Particularmente, considero Blade Runner a obra cinematográfica mais impactante e profunda de ficção científica "cyberpunk". A película de Ridley Scott, baseado no livro "Androides sonham com ovelhas elétricas?", do escritor norte-americano Philip K. Dick, aprofunda o ambiente psicodélico onde o "caçador de androides" (blade runner) Rick Deckard vive e caça replicantes para gerar sua renda. Com diálogos profundos e abordando temáticas filosóficas, Blade Runner persiste até hoje no conhecimento geral como um marco no cinema mundial. Philip Kindred Dick, autor de "Androides sonham com ovelhas elétricas?", "O vingador do futuro" e muitos outros romances e contos (1928 - 1982) Antes de abordar o filme em si, sinto-me na obrigação de falar sobre o romance que originou a obra. "Androides sonham com ovelhas elétricas?" é o resultado de uma mente caótica e amargurada, buscando conforto em drogas, experiências libertinas e na co