Imagem do jornal "O Lince" anunciando o fim do governo Goulart e o início do regime militar brasileiro. |
No dia 25 de agosto de 1961, após sete meses de mandato, renunciava o presidente Jânio Quadros, frustrando uma geração de brasileiros crente de sua capacidade de "varrer" todos os males dos políticos corruptos do Brasil. O vice-presidente João Goulart, estando no oriente a mando do ex-presidente, viu-se em uma situação no mínimo complicada. O Primeiro e o Segundo exércitos, aliados a ínfimos setores inconstitucionais do Congresso e ao próprio Jânio Quadros, tramavam ocupar o cargo do vice-presidente que estava para ser, então, o mais novo presidente da república brasileira.
Jango só ocuparia o cargo de presidente, no entanto, ao ser acordado a criação de um parlamento provisório, limitando o poder presidencial e evitando uma possível guerra civil entre setores inconstitucionais e constitucionais. Todavia, devido ao temperamento difícil de Jango e à crise econômica proveniente da construção de Brasília durante o governo de JK, o parlamento não obteve tanto êxito, tendo três primeiro-ministros entre 1961 e 1963, quando o parlamento encontrou seu fim após a realização de um plebiscito que determinou que a república voltaria a ser vigente no país.
Nesse meio tempo, Jango tentava impor suas reformas econômicas e sociais sugeridas pelo ministro do planejamento Celso Furtado, que constantemente eram barradas pelo Congresso. Mobilizando a população por meio de comícios e propaganda política, Jango tentava trazer consigo o clamor de Getúlio Vargas - o pai dos pobres - para aumentar seu apoio. Contudo, ao fazê-lo, Jango ressuscitou um antigo medo no imaginário social, contextualizado na Guerra Fria: O medo do Comunismo.
Esse medo avançou para outro patamar após o chamado Comício da Central, evento realizado no Centro da cidade do Rio de Janeiro, que mobilizou parte de movimentos estudantis, trabalhistas e operários. Como resposta, em uma aliança reunindo valores tradicionais como família, religião e bons-costumes, foi realizado a marcha por Deus, pela família e pela liberdade, em 1964. Dessa forma, seguindo a Doutrina de Segurança Nacional e tendo apoio midiático e civil, os militares depuseram João Goulart, que pensava conseguir voltar ao poder após um breve período de governo militar, que acreditava-se acabar em 1965, dezoito meses após o golpe de 1964 - ou contra-golpe, segundo as lideranças militares da época.
No entanto, o regime militar, liderado por Castelo Branco, tomou gosto pelo poder. Assim, o que seria aproximadamente um ano de governo, transformou-se em um regime repressor, antidemocrático e autoritário, encontrando seu fim apenas em 1985, com a abertura política iniciada por Geisel e finalizada por Figueiredo.
Durante o período, devido ao severo controle da censura e dos canais políticos, sufocou-se quaisquer formas de insatisfação popular, tal como lideranças políticas contrárias ao regime ditatorial, que respondia com prisões, torturas e assassinatos. Recentemente, inclusive, foram divulgados documentos que comprovavam a manutenção dessas práticas até por Geisel, considerado um dos presidentes militares menos severos (Leia a matéria aqui).
54 anos se passaram desde 1964. 54 anos se passaram desde um dos momentos mais marcantes, profundos e graves da história de nosso país. E apenas 33 anos se passaram desde o fim desse regime nefasto e algoz que, além de ter deixado uma profunda cicatriz social (uma das justificativas das disparidades sociais do país é a não distribuição de capital proveniente do Milagre Brasileiro, durante o governo Médici) e econômica (já nos últimos anos de regime, Geisel e Figueiredo contraíram imensas dívidas para tentar restruturar a economia abalada pela crise do petróleo), também cometeu tantos crimes abismais.
No entanto, apesar de todos os males cometidos no passado, pesquisas apontam que cerca de 43% dos brasileiros defendem uma nova intervenção militar (Acesse a notícia aqui).
Sinceramente, gostaria de poder entender como esse fenômeno é possível. Seria este o resultado da parca educação brasileira? Ou talvez uma reação ao ufanismo nacional empregado durante o regime? Como chegamos ao ponto em que o governo civil é tão fragilizado em que a melhor solução para o problema governamental seria um novo regime?
Poderia finalizar o texto falando sobre a importância da liberdade. Afinal, para esse texto existir, ao autor foi dada liberdade para se expressar. E para ele ser lido, ao leitor foi dada a liberdade de se informar, opinar e até criticar. Mas prefiro constatar o óbvio dando voz a um dos poetas mais icônicos das últimas décadas no Brasil.
Espero, por fim, apenas poder iluminar, para alguns, nem que sejam poucos, o mínimo para que se possa entender os malefícios de uma novo regime autoritário. Espero que, após a leitura de minhas palavras e sua consequente reflexão, o leitor que permaneceu ao fim possa poder dar mais valor à sua liberdade. E que, quando alguém clamar por intervenção, apenas indague:
"Mas já?"
Texto de Lucas Barreto Teixeira
Com certeza a liberdade é um dos maiores valores que temos é que devemos lutar para não ser tirado de nós. O governo militar governa por imposição, por um pequeno grupo que decide. Acho isto bem perigoso. Devemos exercer mais a democracia, a fim de que ela amadureça. Mesmo sabendo que estamos falando sobre o ser humano reduzir sua ganância para viver mais e melhor o coletivo.
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