Jerome David Salinger, no dia 16 de julho de 1951, publica seu maior romance. Em "O Apanhador do Campo de Centeio", Holden Caulfield aparece como protagonista da trama desenhada pelo autor, que com um viés melancólico e desesperançoso desenha as ruas de uma Nova York de solidão e de desamores. Holden, um adolescente recém-expulso de seu colégio por ter reprovado mais um ano, vê-se em uma tentativa de fuga do Instituto de Educação, da família e, principalmente, de sua própria vida, despretensiosa e sem qualquer valor. O jovem então busca encontrar apenas um caminho para que se possa tolerar sua existência.
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J. D. Salinger (1919 - 2010) |
Um dos pontos importantes para a popularização de "O Apanhador no Campo de Centeio" foi, sem dúvida, o apelo marcante de Salinger aos jovens. Nesse caso, Holden Caulfield não é mais que apenas um adolescente indeciso e mergulhado em uma depressão profunda por conta das expectativas geradas em torno dele. Desde a morte de seu irmão, Allie, descrito como um indivíduo espirituoso, cheio de caráter e virtudes, a família Caulfield passou a revelar em Holden um ar de despreocupação e de expectativa de seu fracasso. Dessa forma, Holden cresce sem ambição de superar o que se é esperado dele: ser um ser medíocre dentre tantos outros.
Assim, ao ser expulso do colégio por ter reprovado em todas as matérias exceto a de língua Inglesa, Holden tenta se reconciliar consigo mesmo em uma busca por sua individualidade nas ruas sem vida de Nova York. No entanto, mesmo após deixar para trás professores abusivos, colegas esnobes e até a vergonha de uma paixão inocente, Holden sente uma terrível dificuldade em reconhecer sua subjetividade e o valor de sua solidão, constantemente sendo obrigado a recorrer à companhia de outrem para tirá-lo de uma enorme depressão cujo fim, para o jovem, apenas seria encontrado em um lugar bem longe do centro urbano, afastado de sua família, das memórias do passado e da convivência social como um todo.
Nesse sentido, a concepção de sociedade de Holden se assemelha ao do sociólogo Émile Durkheim. O pensador, um dos pioneiros nesse campo de estudo, ao tentar descrever o comportamento exercido entre indivíduos em um âmbito social, concluiu que as atitudes individuais não são de fato individuais, mas sim ações criadas para que se tenha a manutenção do corpo social. Assim, define o "Fato Social", com o intuito de estabelecer critérios para as relações interpessoais.
Durkheim define o Fato Social como uma ação externa, por não ser gerada pela subjetividade de um indivíduo, coletiva, por se manifestar em todos em uma sociedade, e coercitivo, por ser imposto a partir de conceitos pré-concebidos. Resumidamente, quando inseridos em uma sociedade, os indivíduos agem de forma mecânica e calculada. Dessa forma, cria-se uma inércia social, com ciclos de vida preparadas para formar agentes que contribuam com a manutenção do corpo social.
Assim, ao ser expulso do colégio por ter reprovado em todas as matérias exceto a de língua Inglesa, Holden tenta se reconciliar consigo mesmo em uma busca por sua individualidade nas ruas sem vida de Nova York. No entanto, mesmo após deixar para trás professores abusivos, colegas esnobes e até a vergonha de uma paixão inocente, Holden sente uma terrível dificuldade em reconhecer sua subjetividade e o valor de sua solidão, constantemente sendo obrigado a recorrer à companhia de outrem para tirá-lo de uma enorme depressão cujo fim, para o jovem, apenas seria encontrado em um lugar bem longe do centro urbano, afastado de sua família, das memórias do passado e da convivência social como um todo.
Nesse sentido, a concepção de sociedade de Holden se assemelha ao do sociólogo Émile Durkheim. O pensador, um dos pioneiros nesse campo de estudo, ao tentar descrever o comportamento exercido entre indivíduos em um âmbito social, concluiu que as atitudes individuais não são de fato individuais, mas sim ações criadas para que se tenha a manutenção do corpo social. Assim, define o "Fato Social", com o intuito de estabelecer critérios para as relações interpessoais.
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Émile Durkheim (1858 - 1917) |
Holden, entretanto, sente na pele os resultados dessa concepção de sociedade. Como exemplificado em um diálogo com um antigo professor, quando o jovem conta sobre as aulas de debates, onde alunos deveriam apresentar uma postura rígida e discursos estruturados e corrigidos pelas imposições do professor, a própria escola já age com o Fato Social. Só que, ao se submeter a ele, Holden o vê como um mal tão grande que lhe faz abandonar a instituição. Ao ter suas ideias negadas nas aulas de debates, ao se sentir inferior aos outros colegas mais bonitos do Instituto, ao não se sentir representado em festividades colegiais, como partidas de basebol, e ao ser reprovado por não se adequar ao sistema, o jovem renega os valores da sociedade, passando a ser visto como "rebelde" e "despretensioso". Dessa forma, é por se sentir excluído da sociedade que Holden desenvolve sua depressão.
Para Durkheim, o indivíduo deslocado de sua sociedade encontra a única saída no suicídio. No romance de Salinger, esse processo é retratado pelo suicídio por um antigo colega de Holden, um adolescente calado e solitário, que se joga da janela de seu dormitório ao sofrer provocações de valentões. O protagonista, contudo, apesar de sentir-se deslocado, pretende ir para longe, fugindo do caos urbano, para encontrar felicidade em sua solidão. Entretanto, o plano falha por conta de sua irmã, Phoebe, que serve como âncora de Holden, não lhe permitindo escapar de sua inércia social.
Logo, ao mesmo tempo que critica a coerção social, Salinger encontra valor no mais tradicional dos valores - A Família. Assim, ou o autor apenas provoca a sociedade, reconhecendo sua invencibilidade perante desejos individuais, ou demonstra o quão enraizado esses valores são instaurados na mentalidade dos indivíduos desde cedo. Dessa forma, o fim do romance ilustra a derrota da subjetividade e a vitória do Corpo Social. A grande questão, entretanto, é como se pode mudar esse cenário. Será que uma atitude mais radical, como prevista por Durkheim, seria necessária? Ou a simples fuga do convívio não seria o suficiente? Em todo o caso, há ainda uma outra opção, mais cruel que as anteriores - submeter-se à dolorosa convivência social.
Texto de Lucas Barreto Teixeira
É verdade que o homem, ao menos me parece, não consegue conviver fora deste corpo social. Mas acredito ser o grande desafio, justamente, aprendermos a viver em sociedade. É mais ou menos antagônico então, pois ao tentar fugir deste convívio social, o homem encontraria necessidade de se completar e de se sentir pertencido de alguma forma. Acho que vivemos ora nos afastando um pouco, a fim de nos entendermos mais como indivíduos que somos, sem as imposições desta sociedade, e ora precisando desta aceitação por parte dela, sobre quem sabemos ser. Contudo, há aqueles que não conseguem fazer prevalecer o que trazem consigo de valores e significados, sucumbindo ao senso comum, e infelizmente, acredito ser a maioria. Daí, uma sociedade extremamente superficial e consumista, principalmente de significados.
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