Até
hoje, a discriminação social é pauta de debates e de lutas sociais. Em
especial, no Brasil, grupos de luta pelos direitos negros afirmam que a
principal origem do preconceito étnico está na prática escravagista, principal
força motriz para a economia agrária durante a colonização até o final do
Império. Nesse sentido, Aluísio Azevedo, já em 1881, já nos alertava para atentar-nos
aos perigos do racismo.
Manuel
Pescada, vendo, ao lado de sua sogra cruel com os escravos e extremamente
cristã, a desenvoltura de sua filha, pensava em desposá-la com seu caixeiro
mais fiel, o Dias, que era sempre recusado pela mulher. Ainda, ao redor da
situação familiar, mostra-se a figura do cônego Diogo, compadre do comerciante,
sendo um grande influenciador das personagens.
Nesse
contexto, aparece Raimundo, sobrinho de Pescada, que lhe criara quando pequeno,
ao lado de sua falecida esposa. Raimundo invade a cidade de ignorantes e
desinformados com uma inteligência fulminante, além de ter consigo uma extrema sensibilidade
artística e um conhecimento profundo. Além de suas virtudes, sua beleza cativa
rapidamente Ana Rosa, com quem acaba por desenvolver uma relação amorosa.
O
sobrinho de Pescada tinha como objetivo em São Luís do Maranhão de conhecer
mais sobre sua origem, até cair em paixões com a prima. Assim sendo, durante
uma visita à antiga moradia do pai, com o intuito de revelar seu passado, pede
à mão de Ana Rosa ao pai, que nega o pedido. Essa revelação assusta o rapaz,
por não entender o motivo pelo qual não pode se casar. É aí que Manuel Pescada
confidencia ao sobrinho que ele fora alforriado, ou seja, era filho de uma
escrava.
Descobrindo-se
bastardo e mulato, Raimundo começa a indagar-se se a razão dada por Pescada era
infundada. Afinal, além de amar profundamente Ana Rosa, era um homem de poses e
honrado, capaz de fornecer um bom futuro à amada.
Vale
destacar, novamente, a pretensão do autor com esse pensamento. Por se tratar de
um romance naturalista, Aluísio pretendia mostrar como o ambiente e o cenário é
capaz de modificar as personagens. Dessa forma, primeiro pretendia mostrar como
a mentalidade de São Luís de Maranhão, sua própria cidade, era intelectualmente
atrasada e detentora de uma ignorância profunda. Além disso, desejava mostrar a
mudança feita pelo ambiente em Raimundo, antes um intelectual e republicano,
depois um preguiçoso, detentor de uma mente fraca e patriarcal.
Portanto,
por conta da ignorância provincial, Raimundo descobre ser vítima de uma
terrível descriminação pela sua origem. A revelação, no entanto, não abala o
amor entre o mulato e a filha de sangue puro. O amor entre eles, então
proibido, gera no ventre de Ana Rosa um filho, dessa forma, tornando o
casamento inevitável, para desgosto de toda a família de Pescada.
Contudo,
ressentido pela situação escrupulosa, o cônego articula a parca inteligência de
Dias para tentar, em um último esforço, impedir a união do casal e estabelecer
o casório entre o caixeiro e a afilhada deste. Colocando uma arma na mão do
ignorante, deixa o racismo apertar o gatilho que tira a vida de Raimundo.
Ana
Rosa, por sua vez, ao descobrir a morte de seu amado, atira-se da sacada de seu
quarto, assassinando o filho do mulato, mas não si mesma.
A
triste história de amor entre Raimundo e Ana Rosa encontra seu fim na
ignorância que matou um homem honrado, sábio, e talentoso. Aluísio Azevedo
mostra, assim, o quão estúpido é descriminar pela etnia, uma vez que todos os
personagens ditos como “puros” se mostram menos virtuosos e dignos que o
mulato.
Logo,
o autor não só mostra as consequências do racismo como também suas origens. A
ignorância, a falta de conhecimento, e o enraizamento dogmático, capaz de
desvirtuar a todos os fatos, são os principais elementos levantados por
Aluísio. Afinal, como dito em um debate político entre os caixeiros de Pescada,
Sebastião e o Casusa, “nós não estamos preparados para a república! O povo não
tem instrução! É ignorante! É burro! Não conhece seus direitos!” O triste é
saber que Aluísio estava certo em sua colocação. Afinal, um povo, sem conhecimento,
discrimina por não conhecer seus direitos.
Texto
de Lucas Barreto Teixeira
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