
Aqui desejo realizar algumas suposições caso o Estado
fosse implementado, analisando com um olhar contemporâneo e mais amplo do que
poderia ser realizado à época. Em outras palavras, vamos descrever como seria a
vida dentro da República, enquanto analisamos a obra de Platão e entendemos um
pouco mais de seu pensamento.
Parte I – A divisão social
No
Estado descrito por Platão, existe uma estratificação social, dividindo os
indivíduos em três classes, dependendo de seus interesses e suas aptidões,
conforme a Alma se manifesta.
Assim
sendo, existe a classe mais abrangente, a dos assalariados, que desempenham as
funções mais básicas do estado, de forma com que ele possa ser sustentado,
produzindo alimentos, produtos manufaturados e até arte, desde que esta siga
uma série de parâmetros regulados pelos governantes, como o respeito às
divindades, a valorização da coragem, entre outros.
Em
segundo, os guardiões, responsáveis pela defesa do Estado. Criados por meio da
educação musical e da ginástica, além do estudo das ciências matemáticas, seriam
os mais nobres e honoráveis cidadãos. Acima deles, apenas os governantes, liderando
os cidadãos por meio da filosofia.
Em
todo caso, haveremos de investigar um a um desses indivíduos, realizando as
suposições corretas para podermos imaginar como seria a vida nessa República.
Parte II – O Assalariado

Imaginemos
nossa primeira situação. Estamos em uma das festas organizadas pelo Estado, em homens
e mulheres, ainda em idade fértil, são convidados a fim de procriarem entre si,
a partir da relação de casais criada pelos governantes e anunciada como se
fosse uma atribuição divina. Dessa festa, diversas mulheres saem grávidas e,
nove meses depois, seus filhos são levados a uma repartição pública, onde são
criados como iguais, tendo a mesma educação até se tornarem jovens. Agora, se
consideram todos como irmãos, e seus pais são todos aqueles mais velhos, já que
agora pertencem a uma família pública.
Toma-se
um jovem que, após todo o período inicial de educação, vê-se deveras
interessado pelas paixões, pelos instintos e sem muita inclinação aos afazeres
mais brutos. Assim sendo, esse jovem será rapidamente encaminhado a um trabalho
assalariado que a ele lhe convir. Dessa forma passará a vida, preso em sua incumbência
delegada pelo Estado, tendo como único lazer aquele regulado pelos governantes,
preso, pelo resto de sua vida, à ilusão que pertence a uma raça inferior.
A
grande verdade é que a República mostra seu primeiro lado autoritário. Ao
tirarem do indivíduo sua identidade, ele só irá se identificar com aquilo que o
Estado a ele dizer. Sendo detentores da verdade, os governantes são capazes de
alienar e manipular a sociedade como melhor lhes convir.
Parte III – Os Guardiões
Vamos
acompanhar agora a trajetória de um outro jovem. Esse, ao contrário do
primeiro, apresenta um verdadeiro desapego aos prazeres do corpo, tendo um
desempenho excelente nas aulas de ginástica e interessado nos sentimentos mais
profundos do ser. Ainda infanto, esse jovem já terá sido designado aos
guardiões, tendo aprendido por observação como uma batalha ocorre, visto que
participara de conflitos carregando suprimentos e assistindo os guerreiros mais
velhos, seus pais. Nessas batalhas, viu o guerreiro mais corajoso ser
recompensado com honras e amizades, enquanto que os covardes foram desprezados
e amaldiçoados.
Ao
crescer lado a lado de homens e mulheres, com a mesma competência e o mesmo
vigor físico, é igualmente condicionado a acreditar que apenas aquilo que o
estado diz é verdade, considerando-se ser algo muito além do que realmente é.
Ao invés de um herói, é apenas um peão dos governantes, tão alienado que é
capaz de dar a sua vida por uma ideia que o considera apenas como mais um
dentre seu exército de pessoas sem personalidade.
Parte IV – Os Governantes
Por
último, devemos agora imaginar alguém que consiga se destacar mais do que os
demais; alguém completamente desvinculado do corpo, que busque a todo custo o
conhecimento do inteligível. Esse indivíduo, diferente dos demais, terá uma educação
ainda mais árdua, voltada à dialética e à filosofia, para aprender a pensar
pelo bem comum e a convencer os outros com sua fala. Apenas após os cinquenta e
cinco ele poderá, por fim, exercer uma função no cargo de governante.
Dessa forma, os governantes, sendo filósofos, utilizando-se do controle e da alienação, são capazes de colocar em prática aquilo que pensam, tornando-se autoritários, mesmo por uma causa nobre. Aliás, o que se percebe pelo discurso de Sócrates é que exatamente por ser por uma causa nobre que o Estado precisa ser autoritário, visto que a liberdade individual, de maneira prática, causa um verdadeiro caos político e social.
Ainda assim, não há como sustentar a tese de Platão nos dias de hoje. É certo que, uma vez tendo a liberdade retirada à força, os indivíduos vão desejar se rebelar, desconstruindo toda a utopia de Platão. Nesse sentido, o autoritarismo pregado pelo grego é a sua maior fraqueza. E a sede de liberdade a maior arma contra os governantes.
Texto de Lucas Barreto Teixeira
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