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After: Problemas Reais Inseridos em Universos Fictícios

A primeira vista parece um romance bobo criado na internet, mas ao longo dos capítulos fica notório a profundidade pela qual a autora (Anna Todd) se pretende a descrever as relações românticas, em especial quando expõe o quão problemática elas podem ser.


Tudo começa com uma grande mudança na vida de Theresa (ou Tessa para os íntimos). Essa mudança é o sonho de muitos jovens, tanto brasileiros quanto americanos, entre outros, que é a entrada para faculdade. Após algumas semanas de adaptação, Tessa vai a uma festa de fraternidade e é lá que ela conhece Hardin, um rapaz mal resolvido que fará a vida da moça de vida estável virar de cabeça para baixo. Estável em qual sentido?? Relacionava-se bem com a mãe, tinha um namoro (monótono) com Noah, tirava boas notas e seguia uma rotina, tudo até ela entregar seu coração, sua alma a Hardin. A partir do momento que ela começa a ceder frequentemente a suas vontades, a abrir mão de seus sonhos, desfazer outros relacionamentos e viver em função de Hardin, aliado aos diversos términos, discussões e conciliações, nota-se que a relação é completamente abusiva. Ao invés do casal se somar (Tessa+Hardin), Theresa é constantemente subtraída. E quantos personagens como eles existem atualmente? Parece que não, mas os relacionamentos abusivos são recorrentes no mundo todo. Inúmeras mulheres sofrem de diversas formas, fisicamente e psicologicamente todos os dias.  E os terceiros só sabem julgar, dão palpites, com argumentos baseados no senso comum, isto é, não são profissionais aptos para ajudarem essas pessoas com dependência emocional na toxicidade de relações. 


Imagino apenas como a vida de Theresa, caso não hesitasse em procurar ajuda com os profissionais certos para isso, poderia ser diferente. Seria um processo difícil e demorado, mas as palavras certas usadas nos momentos certos surtem muito mais efeitos do que muitos medicamentos ingeridos ao longo dos anos. Por mais incerto e complexo um relacionamento possa ser, o abuso deveria ser tratado como crime, e a submissão gerada a partir de então pode ser transformada em autoestima e autoaceitação, tornando-a em uma pessoa confiante e mais segura de si.

Texto de Helena Vieira Soto

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