Seis anos após o último episódio de "Breaking Bad", Vince Gilligan retoma as cenas finais de "Felina" para encerrar o arco de Jesse Pinkman (Aaron Paul), deixado em aberto na série. Em "El Camino", o diretor e idealizador da série pretende explorar a fundo um dos personagens mais icônicos de sua obra dividida em três partes: a série principal, voltada no químico frustrado Walter White (Bryan Cranston), em sua jornada para se tornar o maior fabricante de metanfetamina dos Estados Unidos, adotando a alcunha de Heisenberg; a série "Better Call Saul", desenvolvida a partir das perdas do advogado Jimmy McGill (Bob Odenkirk) até se transformar no falastrão Saul Goodman; e, agora, a longa voltada ao desfecho do ex-aluno e parceiro de negócios de Walter.
Diferente de "Better Call Saul", que narra os acontecimentos que antecedem "Breaking Bad", "El Camino" não é um filme que funciona sem a série principal. Com cenas extraídas diretamente dos episódios originais, a longa poderia até ser considerada mais um episódio da série, não fosse a decisão do diretor de mudar o foco de seu enredo. Logo após ser libertado do cativeiro onde era obrigado a produzir drogas a um grupo de maníacos, Jesse se vê sendo perseguido pela polícia, e tenta escapar de sua cidade para começar uma nova vida. Ainda assim, os fantasmas de seu passado continuam a persegui-lo, como se tentassem levá-lo ao mesmo destino de seus antigos sócios de crime.
Aqui, Vince Gilligan parece fazer um contraponto com a jornada dos outros dois protagonistas. Como destacado em uma das lembranças de Jesse no longa, Walter sentia-se frustrado por não ter sido apto de fazer nada de extraordinário até uma idade avançada, tornando-se sedento pelo poder e pela riqueza, caminhando sempre em direção a si mesmo até sofrer as consequências de suas ações arrogantes e individualistas, encontrando a redenção apenas na morte. Por outro lado, Saul sempre almejou grandes objetivos na vida, apesar de nunca ter sido apto de conquistar o que pensava ser seu por direito por conta das pessoas ao seu redor, e quando se liberta de suas correntes sociais para alcançar tais metas, sua mediocridade e covardia o fazem retroceder, fazendo-o novamente ser um derrotado, dessa vez, solitário.
Jesse, entretanto, nunca pareceu tomar, de fato, as rédeas de sua própria vida. Sendo sempre controlado ou pelos pais, por Walt ou por seus cativeiros, ao se deparar com as portas da liberdade, ele consegue apenas pensar em finalmente buscar a si mesmo, não de forma egoísta como os outros dois, mas para proteger aqueles que ama e que poderia vir a amar daqueles que, de fato, controlam-no. Dessa forma, apesar de ter no início de sua vida aquilo que outros almejaram por toda a existência, Jesse pensa apenas em encontrar o repouso, uma força contrária que desse um fim a tudo que acontecia com ele por pura inércia.
A direção e fotografia contemplativas dão ao filme um tom duro e solitário, com longas cenas produzidas com o intuito de explorar as dores e as feridas de Jesse. As lembranças costurando cada decisão do protagonista exploram uma perspectiva nova aos mesmos eventos retratados na série, mostrando a evolução do personagem e aprofundando seu sentimento de despertencimento. Se, antes, era controlado e impulsionado por terceiros, agora encontra meios para terminar sua jornada desamparado, com o controle das próprias atitudes.
"El Camino", portanto, é uma obra belíssima, contemplativa e satisfatória, não apenas buscando esperança em meio a tantas tragédias como também dando um fim singelo e emocionante a um dos personagens mais queridos da obra de Gilligan. Apesar de ser uma homenagem, também, aos fãs saudosistas, a longa não parece sobrar, cumprindo com seu propósito e justificando sua existência. Novamente, o diretor demonstra sua capacidade de reimaginar a própria obra, tornando-a cada vez mais profunda, traçando novas jornadas, e encerrando-as sempre de forma magistral.
"El Camino", portanto, é uma obra belíssima, contemplativa e satisfatória, não apenas buscando esperança em meio a tantas tragédias como também dando um fim singelo e emocionante a um dos personagens mais queridos da obra de Gilligan. Apesar de ser uma homenagem, também, aos fãs saudosistas, a longa não parece sobrar, cumprindo com seu propósito e justificando sua existência. Novamente, o diretor demonstra sua capacidade de reimaginar a própria obra, tornando-a cada vez mais profunda, traçando novas jornadas, e encerrando-as sempre de forma magistral.
Texto de Lucas Barreto Teixeira
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