"Minari", assim como tantos outros filmes durante o período de quarentena, passou despercebido, até ser vencedor do globo de ouro de melhor filme de língua estrangeira (apesar de ser um filme americano). Contradições à parte, confesso ter ficado bastante curioso com o longa, até ver seu nome na lista de melhores filmes do Oscar de 2021, fazendo-me por fim render-me a ele. E fico feliz de ter me rendido. Para começar a série especial dos filmes do Oscar desse ano do Caderno Do Escritor, "Minari" é um tremendo ponto de partida.
Antes de começar a falar sobre o longa, preciso fazer uma confissão. Por conta de toda a situação em que nos encontramos, recusei ver qualquer filme no cinema, respeitando as medidas de segurança e proteção da OMS (e de todas as pessoas com bom senso). Dessa forma, precisei recorrer a métodos não ortodoxos para acessar a maior parte dos longas a serem abordados ao longo das próximas semanas. Infelizmente, "Minari" não é um dos filmes disponíveis atualmente em serviços de streaming, e me sinto em uma certa espécie de obrigação de declarar: nenhum filme vale alguém colocar a própria vida em risco. Tendo deixado esse importante elemento em pratos limpos, julgo ser possível mergulhar no ambicioso título de Lee Isaac Chung.
"Minari" é uma obra profundamente íntima. O roteiro, inundado de diálogos simples e corriqueiros, busca desenhar o retrato de uma família de imigrantes coreanos, tão enraizados nos Estados Unidos que a própria identidade cultural parece se mesclar com a terra. Nesse sentido, Jacob (Steven Yeung) mergulha na doce ilusão do sonho americano, ambicionando um sucesso grandioso, embora ilusório, comprando terras de cultivo no interior do país. A partir de então, somos convidados ao interior da relação intimista dessa família simples, comum o suficiente para se tornar de fácil identificação e distinta em particularidades da trama para impelir a história.
Mas qual o ponto dessa história? Por mais brilhante que seja a cinematografia, ou por mais primoroso que seja o roteiro, nada disso seria importante sem um elemento fundamental para unir tais questões técnicas: a sensibilidade para questionar os efeitos da imigração. Afinal, "Minari" é um retrato, e consigo carrega questões sociais importantes. Se Jacob vive da ambição do "sonho americano", sua esposa Monica (Han Ye-ri), ao lado de sua mãe Soonja (Yoon Yeo-jeong), representa a tradição e os costumes de onde vieram, colocando a família em um patamar muito mais elevado que trabalho ou orgulho. A partir dessa dualidade os conflitos são criados e intensificados, sempre fazendo o público se perguntar até quando as vontades dos personagens foram herdadas, impostas ou criadas naturalmente.
O longa apresenta uma interessante reflexão, e revela uma face não muito abordada na mídia atualmente. Por diversas razões, seus méritos ofuscam seus defeitos, apesar desses ainda serem visíveis. É uma opinião particular, claro, mas certas cenas com personagens americanos não me agradaram, especialmente no final, quando Jacob parece entender o absurdo da mentalidade daquela nação cega para abraçar suas raízes, mas na verdade apenas intensifica sua vontade de alcançar um objetivo sem mais valor. Não deixa de ser, contudo, uma grande obra.
Texto de Lucas Barreto Teixeira
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