Where are you now? Don't answer that
I’m still ugly
You’re still fat
I’ve still got spots
I’m still afraid
Our parents made us what we are
Or was it God?
Who gives a fuck, it’s never really over
I’m still ugly
You’re still fat
I’ve still got spots
I’m still afraid
Our parents made us what we are
Or was it God?
Who gives a fuck, it’s never really over
Durante um
show em São Paulo, Roger Waters, ex-integrante da banda Pink Floyd,
foi alvo de vaias da platéia. O músico, um dos mais conceituados da história do
Rock, foi criticado ao mostrar-se contra o candidato à presidência pelo PSL,
Jair Bolsonaro, que concorre o título com o integrante do PT, Fernando Haddad.
Durante o show, Waters discursou sobre o ressurgimento de movimentos fascistas,
ainda mantendo uma postura rigorosa contra às ditaduras militares
latino-americanas, quando foi pateticamente vaiado pelo público.
O quadro
pitoresco, inexplicável, à primeira vista, revela o quadro de intolerância do
país. O ex-deputado Jair Bolsonaro, que no momento apresenta o maior índice de
intenção de votos, foi alvo, no mês passado, de uma onda de manifestações que
varreu o país, liderados pelo movimento do #EleNão. Conhecido pelos comentários
misóginos, racistas, xenófobos e homofóbicos, o candidato foi altamente
criticado pela oposição, revelando a insatisfação política vigente no cenário
brasileiro atual. Notadamente contra regimes autoritários, Waters aproveitou a
bandeira da hastag e exibiu o nome de Jair Bolsonaro ao lado líderes mundiais
conhecidos pelo posicionamento ultraconservador, tais como Donald Trump, Le Pen
e Farage. Ainda assim, o público passou a vaiá-lo, bradando frases de apoio a
Bolsonaro.
A grande
questão da situação é: o que diabos pensa esse público que, ao mesmo tempo,
consome produtos contra o conservadorismo e apoia esse tipo de regime?
A
contradição de ideias por muito tempo foi um problema no Brasil, de forma
geral. Afinal, um povo que designa o hábito da leitura a causa de sandice de
certo não apresenta preocupação com a sensibilidade artística. Não é difícil
achar obras em que leitores são condenados pela sociedade por ler - é o caso de
Policarpo Quaresma e Conceição. Sem a cultura da leitura, a sociedade
brasileira carece de sensibilidade artística, prejudicando a forma como se
interpreta as obras.
Eis a
causa, inclusive, do avassalador apoio de Bolsonaro nas urnas. Não é de se
espantar que um país que tenha elegido Jânio Quadros e Fernando Collor possa
entregar a um ex-capitão frustrado e ignorante a faixa presidencial.
Alimentando seus eleitores com um falso-moralismo ignóbil, valorizando crenças
que não acredita e discursando em um linguajar pobre e preconceituoso, é capaz
de arrecadar apoio até de vítimas de seu ódio político.
Agora, não
se deve espantar, o leitor, com a reação do público no show de Roger Waters. Ao
analisar de perto o público de um concerto de tamanhas proporções, nota-se,
evidentemente, o predomínio de uma classe alta, por conta dos preços abusivos
que impossibilitam classes de baixa-renda de terem acesso à cultura. Contudo,
sendo o preconceito literário um elemento geral e amplo na cultura brasileira,
não é surpresa que nossa elite seja formada por completos ignorantes (aliás, temo dizer que nunca tivemos uma elite tão idiota como a dos dias atuais, formada por indivíduos sem conhecimento e sem qualquer tipo de interesse à cultura, de uma maneira geral), incapazes
de compreender o quão profundamente as letras de Waters dialogam com seu
público.
Letras
repletas de críticas, profundamente marcadas pelo pessimismo proveniente da
guerra e escritas por quem vivenciou uma juventude carrasca, opressiva e
hostil. Basta escutar um The Wall para se entender a sensibilidade
artística do compositor. Como um homem contra a violência, o ódio e a
intolerância poderia não discordar de um militar saudosista da ditadura,
declaradamente contra as minorias e contra retóricas educativas, como as de Paulo
Freire?
As vaias no show de Roger Waters são gritos de socorro. Um pedido de ajuda de um povo que perdeu sua cultura há tempos, substituindo-a por um sentimento funesto de ódio e intolerância. Não é a morte de um povo. É seu definhamento cruel e perverso.
Hey you, out there on the road
Always doing what you're told
Can you help me?
Hey you, out there beyond the wall
Breaking bottles in the hall
Can you help me?
Hey you, don't tell me there's no hope at all
Together we stand, divided we fall
Always doing what you're told
Can you help me?
Hey you, out there beyond the wall
Breaking bottles in the hall
Can you help me?
Hey you, don't tell me there's no hope at all
Together we stand, divided we fall
Texto de
Lucas Barreto Teixeira
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