21 de dezembro
Hoje conseguimos fechar o estoque da loja. Chefe juntou eu, o estagiário e Douglão. Queria dar bônus de Natal, mas só se trabalhar no feriado. O estagiário ficou logo tremendo. Falou que não podia trabalhar porque tem família católica. Acho que amanhã já ele vai ser substituído. Tem desempregado a rodo aí fora. Só anunciar emprego que já vem nego até da baixada para vender presente para criança de Zona Sul.
O segredo do negócio é nunca falar não, tá ligado? Eu e Douglão sabemos bem disso, então aceitamos. Sei que Douglão tem família, por isso ele saiu meio bolado da loja. Amanhã vou tentar bater um papo com ele. Ver se dá para o chefe desenrolar uma folguinha pelo menos no dia 24. Eu posso até cobrir o turno dele. Não me importo muito.
No caminho pra cá vi aquela novinha de novo no ponto. Dessa vez fiquei esperando para ver qual busão ela pega. O sol fica forte nesse fim de tarde abafado e laranja, e o uniforme me sufoca um pouco no pescoço. Mas ainda assim consegui ficar tempo o suficiente para apreciar aquele corpão mulato e suado.
A aliança ainda estava em seu dedo. Seria pedir demais que um dia ela aparecesse sem aquilo?
Um ônibus para Taquara parou. Ela subiu, deixando um vazio ali. Peguei meu nokiazinho para escutar um pagodinho. Não tem nada mais gostoso que escutar pagode no trajeto de volta do trabalho.
Fim da Parte I
Texto de Lucas Barreto Teixeira
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