Começou com depreciações aos cursos de ciências humanas. Realizando supostas "balbúrdias", estudantes de filosofia e ciências sociais não seriam considerados como investimentos que honrem o dinheiro do contribuinte. De acordo, a opinião fora expressada pelo ministro da educação Abraham Weintraub, cuja vida acadêmica fora marcada pela mediocridade, e pelo presidente da República Jair Bolsonaro, que elegeu como ícone da filosofia contemporânea Olavo de Carvalho, um astrólogo frustrado. Contudo, o comportamento hostil às ciências humanas se alastrou, alcançando toda a vida universitária, com o corte expressivo de 30% dos investimentos às faculdades federais, também arrastando a educação básica a um ciclo autodestrutivo do MEC.
Passaram-se pouco mais de seis meses desde o incêndio que consumiu o Museu Nacional, na Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro. Moradia da família imperial, foi transformada em um museu de artes naturais, após anos de abandono, a partir da coleção particular do Imperador. Embora sendo um grande espaço de pesquisas técnico-biológicas, antropológicas, históricas, vinculada à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), por décadas passara pelo descaso político, até, por fim, perecer no fogo, conjuntamente com o trabalho de vidas e o bem social.
Existe uma cultura no Brasil de não incentivo à pesquisa. O estudante é mal-visto, dito como vagabundo e parasita do Estado. Diferentemente de países exemplares no investimento à tecnologia, como Estados Unidos e Japão, aqui as empresas privadas não tomam parte do corpo acadêmico, tomando uma postura de não investimento em pesquisas. Tais investimentos de longuíssimos prazos não são interessantes a uma classe política que visa apenas o imediato, garantindo votos para as próximas eleições. E é de um governo assim que as faculdades dependem para se desenvolverem.
Então por que cortar tais investimentos gera boas consequências para Bolsonaro e seu eleitorado, ainda que acarretem em uma verdadeira catástrofe na educação pública? Para grande parte da sociedade civil que não teve contato com as universidades, ou pelo menos com os cursos de ciências humanas, o espaço universitário é ideológico, essencialmente marxista, despertando temor dentre os ignorantes quanto ao assunto. Nesse sentido, o corte de investimentos seria uma forma de combater os inimigos invisíveis de um governo de Dom Quixote. Além disso, transferir os custos de investimentos a longo prazo para obras imediatas confere a ilusão de um trabalho sendo feito.
No entanto, essas ações irão - e, na verdade, já estão - gerando um contra-movimento por parte de membros das academias. Estudantes e professores agora realizarão uma abordagem mais abrangente dos conteúdos estudados nas universidades, bem como o valor de suas pesquisas, revelando a uma sociedade civil uma transparência maior dos seus estudos. Assim, é possível que exista uma maior sensibilização, por parte de um corpo social, como um todo, para a preservação da integridade institucional das federais. Mesmo sendo certa a paralisação de grande parte do funcionamento das universidades, acarretando em greves gerais muito em breve em todo o país, é provável o aumento de uma frente pró-educação, assim que forem constatados os prejuízos imediatos da ação de tamanha irresponsabilidade.
O futuro é, sim, incerto. É perigoso, e até mesmo aterrorizador, pensar em quantos indivíduos apoiam a medida. O intelecto sempre fora motivo de temor aos ignorantes, e assim continua o sendo. No momento, não é possível medir o peso das consequências de tantos erros consecutivos do presente governo. É necessário esperar, mas não em inércia. São em momentos assim que a mobilização se faz necessária. E com urgência.
Texto de Lucas Barreto Teixeira,
orgulhosamente estudante de Filosofia,
no Instituto de Filosofia e Ciências Sociais,
da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
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