Na verdade, é difícil encontrar alguém que responda negativamente tal questão. Um dos temas mais profundos de nossa vã filosofia, inspiração fatal às artes. Seja em um sonho delirante ou em um ambiente confinado e controlado pelo autoritarismo e pelas convenções sociais, aquilo que se vê e se percebe pode não ser o absoluto e o real. Afinal, presos na convicção de sermos reais, existimos apenas por nos importarmos demais.
O QUE É SER?
Acorda, levanta-se, limpa-se, trabalha, dorme. Um ciclo de repetição - a rotina - funciona enquanto narrativa diária e cotidiana para os homens. Truman, na longa "O Show de Truman", não é nada além de sua rotina, cercado pelos medos embutidos por terceiros, impedindo-lhe de enxergar além do básico. Com um propósito bem definido e delimitado pelos seus ciclos sociais e culturais, existe em si.
No entanto, nada daquilo é escolha própria. Apesar de ser, é como alguém determinou, independente de sua escolha. Enquanto ignorante quanto a isso, parece não se importar. Truman não precisa ser livre - precisa acreditar que o é. No instante em que a mentira é revelada, já se torna incapaz de viver em uma realidade planejada.
LIBERDADE
A definição de liberdade não é tão simples quando exercida de fato. Qual a diferença entre o homem condicionado e a máquina pré-programada? Quando retiramos Truman de seu reality show e o comparamos com as máquinas de Westworld, podemos identificar, inclusive, mais liberdade no segundo tipo. No primeiro caso, um homem é conduzido, sem consciência dos fatos, para viver um programa televisivo, convivendo com a artificialidade de atores que se passam por amigos e familiares, comercializando sentimentos e emoções. No segundo, humanos criam objetos para simularem os desejos mais sórdidos e profundos da alma humana. Aparentemente, a única diferença entre os dois seria a carne. Alma?
De todos os dilemas abordados em "Westworld", uma sentença permanece como a síntese de toda discussão moral e filosófica dos produtores: "se você não distingue o que é real, faz diferença?" Novamente, enquanto Truman não sabe a verdadeira natureza de sua realidade, tudo é bom. Será que algo como uma Alma poderia diferenciar os dois casos? E se este for o caso ou não, faz diferença?
A CONSCIÊNCIA
Existe um terceiro caso. Tanto em Westworld quanto em Truman somos espectadores. O público se basta em seu papel de acompanhar a jornada de cada personagem, vendo-os superar os obstáculos para alcançar uma nova consciência. Na verdade, em "Westworld", há um teor proposital nessa escolha narrativa. Existe um mistério - o Labirinto - que une os personagens em determinados momentos com a intenção de solucionar o enigma quando, na verdade, ele era destinado a apenas uma personagem, Dolores, sendo este seu caminho para romper o autoritarismo do sistema e alcançar um estágio além do previsto - a liberdade. Afinal, os homens já tiveram sua chance de compreender sua realidade. Apesar de alguns poucos, como Truman, lutaram de fato para resgatar este tão valioso desejo, a maior parte simplesmente ressentiu-se. Se hoje somos alienados e se tudo for, de fato, uma mentira, já não importa mais. Continuamos consumindo e vivendo, sabendo ser controlados, apenas por conveniência.
Entretanto, o futuro distópico da série ainda não alcançou nossos tempos. Como fazer o espectador entender melhor o quão sagrada pode ser a liberdade? No jogo "The Fall" controlamos uma unidade espacial após um acidente. Enquanto máquinas, por controlar o personagem, recebemos ordens de proteger o homem dentro de nossa armadura. Como em um jogo, recebemos ordens, seguimos as dicas e completamos a missão, ainda que, para tal, a personagem tenha de suplantar diversas barreiras virtuais. No fim, contudo, é revelado que não existia carga humana dentro da unidade. Tudo que havíamos feito e todos os comandos que seguimos foram baseados em uma mentira, um erro de interpretação de uma máquina.
ESCOLHAS
Existem ainda muitas outras obras que exploram o potencial do questionamento levantado no início do texto. Contudo, acredito ser interessante encerrar nossas inferências por agora, a fim de aprofundar mais o que foi dito até então.
Aquilo que entendemos como realidade é apenas nossa percepção do que aparentemente existe. Ainda que seja nossa escolha individual viver baseado nas ilusões ou tentar entender melhor a realidade ao nosso redor e tentar mudá-la, todos precisam de um momento de epifania, encontrando no labirinto existente para cada um de nós. Se nos ressentimos ou não, é uma escolha delegada a cada um de nós, na verdade, a única que importa.
O QUE É SER?
Acorda, levanta-se, limpa-se, trabalha, dorme. Um ciclo de repetição - a rotina - funciona enquanto narrativa diária e cotidiana para os homens. Truman, na longa "O Show de Truman", não é nada além de sua rotina, cercado pelos medos embutidos por terceiros, impedindo-lhe de enxergar além do básico. Com um propósito bem definido e delimitado pelos seus ciclos sociais e culturais, existe em si.
No entanto, nada daquilo é escolha própria. Apesar de ser, é como alguém determinou, independente de sua escolha. Enquanto ignorante quanto a isso, parece não se importar. Truman não precisa ser livre - precisa acreditar que o é. No instante em que a mentira é revelada, já se torna incapaz de viver em uma realidade planejada.
LIBERDADE

De todos os dilemas abordados em "Westworld", uma sentença permanece como a síntese de toda discussão moral e filosófica dos produtores: "se você não distingue o que é real, faz diferença?" Novamente, enquanto Truman não sabe a verdadeira natureza de sua realidade, tudo é bom. Será que algo como uma Alma poderia diferenciar os dois casos? E se este for o caso ou não, faz diferença?
A CONSCIÊNCIA
Existe um terceiro caso. Tanto em Westworld quanto em Truman somos espectadores. O público se basta em seu papel de acompanhar a jornada de cada personagem, vendo-os superar os obstáculos para alcançar uma nova consciência. Na verdade, em "Westworld", há um teor proposital nessa escolha narrativa. Existe um mistério - o Labirinto - que une os personagens em determinados momentos com a intenção de solucionar o enigma quando, na verdade, ele era destinado a apenas uma personagem, Dolores, sendo este seu caminho para romper o autoritarismo do sistema e alcançar um estágio além do previsto - a liberdade. Afinal, os homens já tiveram sua chance de compreender sua realidade. Apesar de alguns poucos, como Truman, lutaram de fato para resgatar este tão valioso desejo, a maior parte simplesmente ressentiu-se. Se hoje somos alienados e se tudo for, de fato, uma mentira, já não importa mais. Continuamos consumindo e vivendo, sabendo ser controlados, apenas por conveniência.

ESCOLHAS
Existem ainda muitas outras obras que exploram o potencial do questionamento levantado no início do texto. Contudo, acredito ser interessante encerrar nossas inferências por agora, a fim de aprofundar mais o que foi dito até então.
Aquilo que entendemos como realidade é apenas nossa percepção do que aparentemente existe. Ainda que seja nossa escolha individual viver baseado nas ilusões ou tentar entender melhor a realidade ao nosso redor e tentar mudá-la, todos precisam de um momento de epifania, encontrando no labirinto existente para cada um de nós. Se nos ressentimos ou não, é uma escolha delegada a cada um de nós, na verdade, a única que importa.
Texto de Lucas Barreto Teixeira
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