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Ame ou odeie, é impossível descartar a importância de Orson Welles no mundo das artes contemporâneo. Sua obra cinematográfica até hoje é lembrada como o que há mais de brilhante, e suas técnicas abriram mundos a gerações seguintes. Portanto, quando "Mank" estreou, não perdi sequer um segundo para assisti-lo, com uma certa dose de expectativa que não foi completamente atendida.
Não há como falar de "Mank" sem dizer uma ou duas palavras sobre "Cidadão Kane", afinal o longa se trata de como o roteiro da suposta obra-prima de Welles foi criado. O clássico conta a história de vida de Charles Foster Kane, interpretado pelo próprio diretor, a partir de suas últimas palavras antes de morrer. É um filme espirituoso, profundo, atemporal e transformador. E mesmo não sendo sua melhor obra ("Verdades e Mentiras" é o cinema de Welles em seu estado mais puro e seu filme póstumo "O outro lado do vento" é o diretor se encontra em seu estado mais maduro), todo seu legado recai em Kane.
David Fincher, sabendo do peso cultural e histórico do longa, arquiteta então o lado oposto ao do diretor. Afinal, Herman Mankiewicz (Gary Oldman), o Mank, aqui é colocado no declínio de sua carreira, falido, doente e cedendo ao vício do alcoolismo. Então, Orson Welles (Tom Burke) oferece a possibilidade de escrever seu próximo filme, uma grande sátira da elite americana, possível apenas pela vida de Mank ao lado dos alvos de seu roteiro sagaz.
"Mank" se propõe enquanto uma releitura de "Cidadão Kane", e funciona enquanto complemento, mas se revela como um filme arrastado e monótono. Não é ruim, de forma alguma, porém não justifica ser o favorito da premiação. Encaro as falhas do roteiro como uma tentativa do diretor de fazer um longa atemporal, no entanto parece tornar-se obsessivo ao traçar paralelos com os tempos modernos, limitando a narrativa.
No fim, o filme se apresenta como uma distração agradável aos fãs de Welles, mas acaba se limitando em certas decisões no roteiro. Apesar de se apresentar enquanto uma obra realizada com paixão pelo legado do cineasta, tudo parece ser montado para seguir os modelos da premiação. Esvazia-se de sentido e perde o foco.
Texto de Lucas Barreto Teixeira
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