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Desde "eu, Tonya", vi-me encantado com esse estilo de filme biográfico, misturando o real com a ficção, quebrando a expectativa do drama com humor em momentos certos. Claro, esse estilo é bem mais antigo, mas criou-se uma certa fórmula em tempos recentes que rendeu excelentes títulos até então. E "Os sete de Chicago" é o exemplo perfeito disso.
Um elenco primoroso, um roteiro bem amarrado, um acontecimento histórico interessante e uma direção competente são capazes de qualquer coisa. O longa retrata um julgamento recorrente de uma grande manifestação em Chicago, onde uma chacina aconteceu, com policiais atacando manifestantes e prendendo diversas lideranças políticas de movimentos sociais variados, que lutavam contra a Guerra do Vietnã. Por se tratar de um julgamento de motivação política, cheio de arbitrariedades e contradições, todo o episódio rendeu uma história interessante o suficiente para criar uma catarse muito bem empregada.
Todo o caso da promotoria se dá a partir de uma lei feita para atacar os atos dos direitos civis da população negra dos Estados Unidos, e é distorcida para encaixar sete lideranças de movimentos sociais de esquerda divergentes em um só bloco "terrorista". Mesmo com os exageros contraditórios da promotoria, o julgamento se prolongou por meses, alimentado por relatos de oficiais infiltrados e com um juiz despreparado o suficiente para desarmar a defesa.
Uma vez sem serem aptos de articular qualquer argumento de defesa, os julgados passam a usar o palanque para se expressar politicamente, revelando os absurdos da corte por meio da sátira e pela crítica. E quando os absurdos são expostos, o diretor é capaz de passar a indignação pela câmera, usando o excelente trabalho corporal dos atores. A obra no geral é tão competente que no fim rende um longa divertido e consciente, talvez falhando apenas em ser modesta demais.
Dos filmes apresentados aqui nesse especial, "Os 7 de Chicago" foi um dos mais agradáveis de se assistir, por saber pontuar seus temas. O episódio retratado foi horrível e tenebroso, porém vê-lo dessa forma parece trazer uma reflexão mais direta dos assuntos. Torna-se assim uma catarse saborosa e necessária.
Texto de Lucas Barreto Teixeira
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