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Não há nada mais comum no cinema que a vingança. É a motivação mais antiga, mas simples e mais eficiente a se usar quando uma narrativa é construída, e de alguma forma nunca envelhece. "Bela Vingança" se apresenta assim: buscando contar uma história conhecida, sem muitas surpresas, apenas para subverter as expectativas ao revelar enredo maduro e impactante. Ao usar de uma narrativa tão comum, a diretora Emerald Fennell estabelece relações com o público íntimas para dizer a que veio.
Dizer que "Bela Vingança" é novo pode ser falso, mas constar que inova é lhe fazer justiça. Hoje em dia existem inúmeras obras de premissa semelhante: uma mulher violentada por homens deseja vingança e passa a persegui-los, e em um primeiro momento o filme não nega sua simplicidade, referenciando seus semelhantes e comemorando-os. Afinal, a película segue Cassandra Thomas (Carey Mulligan), uma mulher angustiada por um trauma em seu passado que a motiva a desestabilizar homens abusivos, violentando-os pelo psicológico, ao contrário da usual fisicalidade utilizada para operar a catarse visual. Nesse sentido, o longa não tem pretensão em criar algo novo, mas sim em aperfeiçoar e lapidar esse gênero de narrativa.
Quando Cassandra entra em contato com um conhecido de sua antiga faculdade, seu trauma, estabelecido pela série de violências causada a sua melhor amiga, Nina, transborda em uma sede de vingança, localizando os alvos que mais lhe causaram dor em todo o processo, nunca de forma óbvia, embora comum ao público que não tarda a simpatizar com a personagem. Em sua jornada, entretanto, ela lida com a dualidade da angústia com seu desejo de viver uma vida fácil, leve e deixando seu desgosto para o passado.
O filme é um suspense delicioso, sabendo dizer sempre o certo na hora certa e fazendo o suficiente para fazer o público refletir em seus temas, densos e complexos. Emerald Fennel, que assina o roteiro além de dirigir, revela-se de uma sensibilidade necessária a esse tipo de enredo, sabendo lidar com as responsabilidades criadas com as situações aqui impostas. Como as revelações não carregam grandes surpresas, todo trajeto criado é trilhado com doses de realismo e segurança, entregando uma obra excelente até o fim, que pode desagradar alguns, porém não deixa de entregar sua mensagem.
"Bela Vingança" é uma das maiores surpresas da lista de premiações, ao menos para mim, que não esperava ver algo do tipo entre os demais títulos tão formatados nos moldes do Oscar. Não que isso seja um problema, alias, ao contrário, já que algo de diferente é sempre bem-vindo quando se vê tantos títulos em sequência. Já é um dos mais memoráveis, e não merece ser esquecido tão cedo.
Texto de Lucas Barreto Teixeira
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