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Quando vi pela primeira vez o título na listagem de nomeações de melhor filme do Oscar, pensei apenas: impossível um filme com Olivia Colman e Anthony Hopkins ser ruim. Não quero dizer que estava errado, mas todo o potencial do elenco acabou se revelando como algo muito além para ser sustentado por uma narrativa tão desinteressante. No final das contas, "Meu Pai" parece ser apenas um complemento genérico em uma lista com filmes bem mais memoráveis.
O longa é dirigido pelo dramaturgo Florian Zeller, inspirado por uma de suas próprias peças. Esse singelo elemento é parte fundamental do filme, que sempre busca colocar na tela uma nova interpretação dos palcos. No entanto, em seus esforços, o filme não parece justificar tal necessidade, pautado em um enredo simbólico, porém pouco apelativo.
A história é contada a partir dos delírios de Anthony, um senhor tomado pela demência, com duras dificuldades de compreender o mundo ao redor e a progressão de tempo. A partir disso, o diretor toma seu tempo mostrando as dificuldades de sua filha, Anne, ao cuidar dele. Nesse sentido, o enredo demonstra as dores da idade e o custo do zelo, em nível íntimo e social, reduzindo a personagem a mera cuidadora, por obrigação.
Contudo, devo dizer que pouco me agrada aqui. Há sim surpresas na narrativa, mas nenhuma com impacto, seja em sua mensagem ou em seu propósito narrativo, fazendo-a ser apenas uma série de cenas previsíveis e genéricas, muito comuns a títulos de outros anos produzidos apenas para agradar a academia. Sim, 2020 foi um ano difícil, com poucas produções, porém várias produções foram deixadas de lado para dar espaço a este ("Estou pensando em acabar com tudo" é um filme muito similar mas que se sustenta com muito mais disposição, e outros títulos como "A Voz Suprema do Blues", que estão na premiação em outras categorias, poderiam ocupar esse lugar com muita facilidade). Em suma, é uma obra monótona sem nada novo ou de memorável para trazer consigo e refletir.
Agora, com o presente texto de "Meu Pai", faltam apenas dois filmes para acabar a série do Oscar de 2021. Até o momento, este é facilmente o pior na lista. Posso pensar em ao menos quinze outras obras, sem fazer esforço, que sabem abordar a temática de forma mais sensível, e outras quinze com um melhor uso da experiência cinematográfica. Entretanto, entristece-me constatar essa situação. Novamente, esse elenco carrega um potencial tão grande, que a frustração de ver um filme mediano dobra, ou até mesmo triplica.
Texto de Lucas Barreto Teixeira
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