Já se passaram 3 anos de Caderno do Escritor! Mal consigo acreditar nisso enquanto escrevo, mas é a mais pura verdade! Desde o primeiro texto publicado, em abril de 2018, muita coisa mudou por aqui (aliás, foram 100 textos de lá pra cá!), e não queria deixar isso passar em branco. Eu não sou uma pessoa que costuma fazer isso... inclusive os dois primeiros aniversários do blog passaram sem nenhuma menção a eles, mas sabe como é, muito tempo se passou e tudo aqui parece ter mudado (diabos, é difícil até de reconhecer o eu de 2018!). E o que vai ser essa publicação, pergunto a mim mesmo junto com vocês, caros leitores... e a verdade é que não sei. Uma homenagem? Uma retrospectiva? Eu passando vergonha com textos antigos? Vamos descobrir juntos, que tal?

Por onde começar? Que tal voltarmos para o dia 17 de abril, quando tudo começou? O design original do site era bem mais colorido e chamativo, com um esquema de cores usando laranja e um azul bem claro, que eu pensava dar um ar sereno a quem visitava. Mas a verdade é que aquela paleta não ajudava muito. Era tosco e mal feito, apesar de ser o suficiente para começar a publicar alguma coisa. A intenção? Estava a alguns meses de publicar meu primeiro livro, "Lágrimas de Sangue e outros contos", e queria ter algum portal para me comunicar com possíveis leitores. Eu sei, eu sei, era muito mais simples administrar um perfil no Instagram, publicando uma foto aqui e acolá, mas nunca gostei disso. Sempre pensei que leitores gostariam de ter um contato mais íntimo com autores, o que as redes sociais sem dúvida proporcionam. Ainda assim, a intimidade de um texto, um desabafo a partir de uma experiência... isso apenas a partir de um blog era possível.

E assim publiquei o primeiro texto, "A verdade do alienista e a massa alienada", referente ao clássico "Alienista" de Machado de Assis. O eu de 17 anos, tímido e ansioso para acabar logo o último ano do colégio, carregava consigo sempre vários cadernos, anotando frases e observações de livros e filmes que o estavam distraindo durante o período. Foi apenas um passo para deixar suas observações públicas, no espaço caótico da internet. Mas foi isso que fiz, alegre em finalmente me deixar ser ouvido. Sabe como as coisas funcionam por aqui: literalmente qualquer um tem a total liberdade em expressar qualquer opinião que lhe convir. Desde que arque com as consequências de suas palavras, essa oportunidade deve ser agarrada, sem pensar se está sendo ouvido de fato ou se está apenas gritando no vazio. Com essa mentalidade fui escrevendo mais e mais, navegando primeiro nos mares tumultuosos da literatura, posteriormente mergulhando no cinema. Se me arrependo? Jamais. É claro que muitas das minhas visões de mundo ficaram no passado, e acho que vários textos poderiam ser atualizados. Contudo, vivo pela máxima de Aldous Huxley, que se recusou a atualizar seu "Admirável Mundo Novo", por saber que a obra precisa ganhar vida em determinado momento, cortando seus laços com o autor.

O tempo passou, e fui me aventurando em cada vez mais temas. Comecei a falar de literatura contemporânea, especialmente ao ler "
O Sol na Cabeça" de Geovani Martins, que me abalou em todos os sentidos possíveis. De lá, misturei filosofia em meus textos, até um dos meus favoritos: "
O Mito da Caverna em The Wall", por representar minha obsessão pelo disco na época (apesar de conhecer Pink Floyd há eras, comecei a me interessa profundamente por eles apenas tardiamente), até chegar ao ponto em que tentei descrever minhas emoções com o recém-lançado "
This is America", de Donald Glover, que na época gerou o maior índice de acessos no site. Então, em junho, fiz dois textos que, para mim, definiram o futuro do blog, de certa forma.
No dia 6, inconformado (como todos) pelos saudosistas do regime militar, escrevi um
texto sobre política... muito mais pessoal que qualquer outra coisa. Tento sempre ter certos cuidados ao escrever, por reconhecer que qualquer tipo de desinformação aqui escrita pode ser lida de formas torpes e enganosas. Portanto, ao escrever qualquer coisa sobre a ideologia que carrego, entendo as responsabilidades que terei de tomar. Com um grande alívio, o texto foi amplamente visualizado, rendendo comentários extremamente positivos dos leitores maravilhosos do blog (sempre vou agradecer imensamente por todos vocês!), que nunca poderiam me decepcionar.
O segundo texto, publicado dois dias depois, não teve de forma alguma o peso pessoal do primeiro, mas foi simbólico por outras razões. Pela primeira vez, decidi escrever uma crítica negativa de uma obra. No princípio, pensei em apenas escrever sobre obras que aprecio, ou ao menos que apreciava à época, então escrever sobre "
Solo", aquela atrocidade cinematográfica, me fez repensar algumas coisas do Blog.

Afinal de contas, o que se tornou o "Caderno do Escritor"? Eu realmente não sei dizer. Aqui ainda é o lugar que me exponho, me abro e me revelo. Cheguei a escrever crônicas aqui, que eventualmente apaguei, por uma razão ou outra, apesar de terem sobrado uma ou outra. O que começou como um cartão de visitas, tornou-se muito íntimo, e já considerava o portal como indispensável. Quando lancei o "Lágrimas de Sangue", uma felicidade tão genuína tomou conta de mim que corri para falar sobre o livro aqui, ansioso para ver a reação dos leitores. Ainda lembro com muito carinho tudo que resultou do lançamento, na
Bienal de São Paulo, que rendeu não apenas leitores como amizades improváveis de pessoas que admiro imensamente, que me ajudaram muito na carreira de escrita. No entanto, tudo isso me dá uma sensação engraçada. Tudo parece ter acontecido há muito tempo. Quase que em outra vida. Não sei. Culpo a quarentena. Não consigo mais lembrar da sensação de estar com as pessoas. De abraçar, sorrir e se emocionar com essa paixão que cada um carrega de forma muito particular e própria. Mas lembro desse sentimento de felicidade ampla, inteira. Isso tudo enquanto entregava cartões de contato antiquados, com o esquema de cores extremamente pouco profissional do Blog! Esses textos curtos, que escrevia nos intervalos das aulas, tentando afastar as preocupações de vestibular e afins, tornaram-se partes essenciais de mim. Talvez tenha demorado a aceitar isso, mas houve um momento em que percebi.
Em fevereiro de 2019, resolvi mudar. Atualizei todo o portal, com um visual mais limpo e um design mais compacto. Talvez ainda não seja o bom o suficiente, mas foi o melhor que consegui fazer para deixá-lo simpático e agradável. Na época, estava testando novos modelos para o "Caderno", tendo publicado dois vídeos bem improvisados, inspirado em amigos que tentavam me ajudar a expandir o conteúdo. Porém, até hoje não sei se os vídeos agradam muito. Mas a gente chega lá. Ainda tem um ano para chegar nesse ponto.

Quando o Blog fez um ano, atualizei o esquema de cores para esse atual. Eu particularmente fiquei muito mais feliz com ele. Pelo número de acessos, inclusive, acho que a mudança foi bem-vinda a todos. Não sei se deveria atualizar uma vez mais, contudo foi nesse ano que escrevi alguns dos textos que mais me agradam. Ao invés de listá-los (vocês podem encontrá-los sempre na pasta de arquivos na aba do site), entretanto, queria destacar os dois textos escritos pela minha queridíssima amiga e parceira Helena.
Apenas por título de curiosidade, a publicação mais visualizada do site, de longe, é a sua análise de "
After", que até hoje rende umas dezenas de acesso por semana. Chega a ser assustador a disparidade, e nos divertimos muito quando vemos os números eventualmente. Eu a convidei para escrever ainda nessa perspectiva de expandir o Blog, e sempre a vi como uma adição muito boa para a construção do "Caderno". Tendo sempre misturado o popular com o clássico, quebrando essa estrutura velha de "entretenimento contra academia". Seu texto foi muito bem recebido, caindo aqui como uma luva. Quem sabe ela volte a escrever um dia?
2019 foi um ano com seus altos e baixos, é claro. Primeiro ano da faculdade, foi difícil atualizar o site com tanta frequência. Mais para seus últimos meses, cheguei a escrever sobre filmes cotados para o Oscar, mas foi impossível de manter um ritmo regular. Contudo, não posso deixar de citar a maravilhosa Bienal do Rio, onde participei pela Qualis, na publicação de duas antologias. E apenas algumas semanas depois, fui logo jogado para a Ler, também aqui no Rio, onde encontrei inúmeros novos leitores. Não posso nem começar a descrever essa saudade. Realmente espero que, tão logo estejamos todos vacinados, possamos voltar a nos ver dessa forma. Mas já estamos chegando em 2020, quando as coisas... foram bem ruins. É, talvez seja hora de falar sobre isso.
Obrigado pelo carinho de cada um que me deu a oportunidade de apresentar meu trabalho.
É sem exageros que digo que nada disso seria possível sem vocês.
Obrigado de todo o coração.
2020 aconteceu. Não preciso falar de novo o quanto isso impactou... até porque todo mundo entende o como impactou. Mas é engraçado. Em fevereiro publiquei meu primeiro livro digital, "
O Silêncio dos Cisnes", como um teste para ver como eu me sairia. Depois de dois anos com o "Lágrimas", o "Silêncio" para mim foi um grande salto. Tudo que aprendi anteriormente coloquei nele, em contos ainda mais intimistas e expressivos. Para ressaltar minhas expectativas nele, contratei a incrível artista
Hana Karnon (deem uma olhada nos
sites dela, as obras são maravilhosas e ela está lançando uma HQ nova), que fez uma vanita para representar tudo que estava ali. Contudo, por minha incapacidade de lidar com redes sociais, o livro não fez tanto sucesso assim. No lançamento, ele chegou a Top 3 da categoria na Amazon, mas provei ser incapaz de gerenciar as redes nesse sentido.
Quando a quarentena começou, eu tinha agendado participar de pelo menos três eventos durante o ano, cuja participação eu obviamente tive de cancelar. Sem minhas aulas na faculdade e sem poder encontrar com meus amigos... perdi a motivação. Quando estava tentando voltar a escrever, Rubem Fonseca e Garcia-Roza, dois grandes escritores brasileiros que sempre me espelhara faleceram, fazendo-me afundar ainda mais em tristeza. Sem Animal Crossing e partidas de madrugada de Mario Kart, confesso que não sei o que seria de mim. Felizmente, fui um dos privilegiados que não precisou se expor, apesar de morar com uma mãe que foi obrigada a trabalhar fora durante todo esse período. Bem, acho que dá pra imaginar por que o "Caderno" ficou tão parado. Tentei fazer alguns vídeos, para sair da rotina, mas nunca alcancei uma qualidade aceitável. Só em dezembro consegui reunir energias para me lembrar do valor desse portal para mim, e fico muito feliz que tenha me lembrado. Como eu imagino que seja possível perceber, só em janeiro desse ano publiquei seis textos, e um vídeo... e não pretendo parar por aqui.
Foi nesse período que resolvi abrir uma aba de
contribuição também. Afinal, apesar de todo o bem que me gera, isso tudo consome tempo e dedicação. E espero que um material de qualidade satisfatória esteja chegando até vocês. Afinal, se antes queria expandir o portal, agora quero apenas deixá-lo o melhor possível para aqueles que se interessam pelas ideias aqui expressas.
Ainda assim, não deixo de ficar impressionado. 100 textos. É muita coisa. Que venham 100 mais, certo?
Ah, uma última coisa. Talvez alguns de vocês já saibam, mas esse ano está recheado de coisas novidades. A primeira e mais importante... estou participando de mais duas antologias da Editora Qualis! Dá uma olhada na aba com meus livros que sempre tento deixá-la atualizada. Além disso... estou para lançar um novo livro! E de quebra, esse vai ser meu primeiro romance! Não posso falar muito ainda, mas já divulguei a capa no meu Instagram (sei que não uso muito, mas dá uma olhada no @lucasbarretoteixeira) e queria falar um pouco sobre o livro. Ele é baseado no conto "Cicatrizes" da antologia "Empodere-se", um estudo de personagem inspirado em Crime e Castigo nas ruas escuras do Rio de Janeiro. Vemos um estudante rico, perseguido por um trauma, tornando-se cada vez mais obsessivo por uma mulher e por um caderno de um homem obcecado por sua vizinha... mas não posso falar mais que isso! Assim que tiver uma data de lançamento, venho falar mais para vocês do "Relatos de um Crime"...
Uau, esse texto já tá bem mais longo que o habitual. E bem diferente também. Mais direto, íntimo... gostaram desse estilo? Deixem um comentário aqui (preciso começar a respondê-los) para a gente trocar uma ideia. De resto, queria dizer também que muito em breve vou começar algumas lives na Twitch. Sem eventos, queria criar um espaço para interagir mais. Quem sabe vocês acabem se interessando com alguma coisa que rolar lá. Se me seguirem no Twitter (@lucasbtesc) fica mais fácil de saber quando eu vou fazer algo nesse sentido.
Mais uma vez, agradeço a todos vocês. A cada doação, a cada compartilhamento, a cada comentário, a cada leitura, a cada clique. Obrigado. E logo logo voltamos à programação normal... mas, hoje, festejemos.
Um abraço apertado de Lucas Barreto Teixeira
Parabéns querido escritor. Falar de forma íntima requer falar em um ambiente íntimo e para quem gostamos. Não há dúvidas que você ama escrever, falar sobre e receber retornos de seus trabalho /obra. E está certíssimo. Se a vida fosse simples, você trilharia apenas o único caminho para o qual parece que foi predestinado: escrever! Mas sabemos que a vida é complexa. Mas isso não deve desanima-lo a buscar sempre aprimorar-se no que tão bem faz, apenas quero dizer: "persista, insista", pois você tem muito dom. Parabéns pelo texto 100. Que gostoso ouvir você falar sobre sua emoção abertamente! Pois admiro muito sua forma de escrita, que sempre me levam à reflexões profundas e mundos dos quais jamais poderia imaginar...Não que meu mundo não seja real...mas trata-se de um realismo de onde o homem pode chegar na sua mais pura essência enquanto ser individualista frente à tantas mazelas a ele impostas...torcendo por seu retorno à minha publicação!! Essa interação sempre foi esperada por mim, e acredito que por seus outros fãs. Bjs com carinho. Sucesso sempre!!
ResponderExcluirSílvia