Pular para o conteúdo principal

O Som do Metal é meu favorito de melhor filme

Acesse aqui os demais textos da série:


Finalmente chegamos ao fim da série especial de análise de todos os indicados a melhor filme do Oscar de 2021. A lista conseguiu se equilibrar, até aqui, em filmes medianos e competentes, revelando até, em alguns casos, como a força da campanha para a premiação pode ser mais relevante do que o filme em si, para a premiação. Nesse sentido, nada melhor do que terminar em alto nível, no filme que particularmente considero meu favorito da premiação.


"O Som do Metal" é, em síntese, uma história de ensinamentos. Não apenas ao espectador, mas para o protagonista, Ruben (Riz Ahmed), em específico. Tendo sua vida inteira construída ao redor de seu trabalho enquanto baterista, Ruben se vê subitamente perdendo a audição, e em meio ao medo e confusão, passa a viver em uma comunidade de pessoas com surdez, para aprender a viver com sua nova condição.
Pela sinopse, alguns alertas podem tocar em nossas mentes. Talvez, o filme seja apenas um filme capacitista, abordando a vivência de pessoas com deficiência como "exemplos de superação", já que esse tipo de narrativa parece ser regra no mercado. Contudo, a direção de Darius Marder, em conjunto com o roteiro, leva o público a um espaço de compreensão e empatia, ao invés de pena e dor. É por tal sensibilidade que os temas são tão bem abordados, visto que, além de sua nova condição, Ruben ainda vive com seus vícios antigos, longe das pessoas que ama e que o apoiam.


São muitas as razões de "O Som do Metal" ser meu favorito da premiação. Primeiro, a técnica empregada quanto ao uso de som, ao lado da atuação primorosa do ator principal, que precisa passar a confusão e o medo de seu personagem, enquanto ainda passa a felicidade de aprender a viver consigo mesmo, é de uma perfeição rara. Além disso, o elenco de apoio sempre soma, e o enredo não se arrasta, criando intrigas e problemáticas. Sem dúvidas, apresenta um peso elevado, e dá muito valor ao serviço de streaming vinculado a ele.
Agora, gostaria apenas de fazer um comentário geral a respeito da premiação. Meus filmes favoritos em todo o processo, sem dúvida, foram "O Som do Metal", "Bela Vingança" e "Judas e o Messias negro", com menção honrosa a "Os 7 de Chicago", que entretém, e a "Minari", que mesmo arrastado se mostra uma belíssima obra. "Meu Pai", sem dúvidas, é o que menos me agradou, a ponto de não saber ao certo como foi capaz de chegar ao ponto em que está. Quanto a "Nomadland" e "Mank", considero os dois com problemas similares, enraizados na construção do roteiro, dando um ar pretensioso que não me agrada. Ainda assim, não acho que meus favoritos serão os premiados. Afinal, vale lembrar que tais premiações não julgam o valor do filme por si só, gerando um lobby de campanha que fortalece o comum e o fácil, e por essa questão vejo facilmente "Mank" levando o prêmio, por mais que "Judas e o Messias negro" pudesse sugerir ser o grande vencedor. Ainda assim, vai ser interessante ver como o Oscar será realizado no contexto de pandemia.
Com isso, chegamos ao final da série dos melhores filmes do Oscar. Vale lembrar, é sempre interessante ver os títulos em outras categorias, muitas das vezes bem mais interessantes que filmes produzidos apenas para levar estatuetas. E claro, caso desejam, basta deixar aqui embaixo suas sugestões para a noite, bem como suas opiniões sobre os filmes, para podermos levar a conversa adiante.

Texto de Lucas Barreto Teixeira  


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A hora da estrela - A epifania da morte

Tudo no mundo começou com um sim. Uma molécula disse sim a outra molécula e nasceu a vida. Mas antes da pré-história havia a pré-história da pré- história e havia o nunca e havia o sim. Sempre houve. Não sei o quê, mas sei que o universo jamais começou. Que ninguém se engane, só consigo a simplicidade através de muito trabalho.  Enquanto eu tiver perguntas e não houver resposta continuarei a escrever. Como começar pelo início, se as coisas acontecem antes de acontecer? Se antes da pré- pré-história já havia os monstros apocalípticos? Se esta história não existe passará a existir. Pensar é um ato. Sentir é um fato. Os dois juntos – sou eu que escrevo o que estou escrevendo. Deus é o mundo. A verdade é sempre um contato interior inexplicável. A minha vida a mais verdadeira é irreconhecível, extremamente interior e não tem uma só palavra que a signifique. Meu coração se esvaziou de todo desejo e reduz-se ao próprio último ou primeiro pulsar. A dor de dentes que perpassa esta histór...

O controle de massas pela ignorância

Há diferentes formas pelas quais um autor pode se expressar na literatura. O gênero fantástico, com suas incontáveis vertentes, estabelece uma realidade absurda, seja ela futurista ou mística, improvável ou verossímil, complexa ou simples, de modo com que um problema possa ser abordado de forma mais criativa, dinâmica e elucidativa. Nesse contexto, as distopias foram formadas a partir da percepção política e social de certos autores em relação ao seu tempo, em que governos tiranos cerceiam as liberdades individuais, questionar já não é mais permitido, a a vida se torna fútil e patética. Dentre a vastidão de obras que se apoiam nesse princípio, três clássicos da literatura não apenas definem o gênero como também estabelecem uma série de correlações entre eles, criando uma vasta e complexa crítica à sociedade de nossos tempos. Da esquerda para a direita, Aldous Huxley, Ray Bradbury e George Orwell, respectivamente autores de "Admirável Mundo Novo", Fahrenheit 451" e ...

Blade Runner e a filosofia do absurdo

Particularmente, considero Blade Runner a obra cinematográfica mais impactante e profunda de ficção científica "cyberpunk". A película de Ridley Scott, baseado no livro "Androides sonham com ovelhas elétricas?", do escritor norte-americano Philip K. Dick, aprofunda o ambiente psicodélico onde o "caçador de androides" (blade runner) Rick Deckard vive e caça replicantes para gerar sua renda. Com diálogos profundos e abordando temáticas filosóficas, Blade Runner persiste até hoje no conhecimento geral como um marco no cinema mundial. Philip Kindred Dick, autor de "Androides sonham com ovelhas elétricas?", "O vingador do futuro" e muitos outros romances e contos (1928 - 1982) Antes de abordar o filme em si, sinto-me na obrigação de falar sobre o romance que originou a obra. "Androides sonham com ovelhas elétricas?" é o resultado de uma mente caótica e amargurada, buscando conforto em drogas, experiências libertinas e na co...